quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Camilo III








Depois dos "Contos, Novelas Curtas e Romances Breves" (em dois volumes) na Camiliana do Círculo de Leitores, com recolha, prefácio e notas de José Viale Moutinho, saiu recentemente o terceiro título desta mesma Camiliana, desta vez com o título "Cartas Escolhidas". Esta mesma colecção foi apresentada no Centro de Estudos Camilianos em 2016, mais precisamente em 10 de Setembro, ao fim da tarde; e lembro-me porque nesse mesmo dia realizei uma conferência sobre Camilo em Ribeira de Pena com o título "Uma Aventura Camiliana entre a Filosofia e a Literatura". Foi um magnífico reencontro entre um curioso pelo mundo camiliano e um investigador nato do mesmo mundo, diga-se, José Viale Moutinho. Na verdade, apresentou esta colecção camiliana com o seu humor e ironia típica e Camilo deve ter gostado e rido bastante. Imagino os dois juntos em grandes risadas. O curioso pelo mundo camiliano mais espantado ficaria quando o investigador nato anuncia o seu nome e diz: "O meu amigo tal que anda para aí com a ideia do Camilo filósofo..." e diga-se, não sem humor e ironia, apresentou, se bem me lembro duas frases típicas camilianas para apresentar o seu Camilo filósofo, entre o riso e a gastronomia - tal referência ao curioso do mundo camiliano valeu-lhe alguns maus olhados no fim da sessão...  Mas o Camilo filósofo para o curioso do mundo camiliano é essa mesma representação da vida, na essência do humano, entre o riso e a gastronomia, entre os amores e os desamores, as relações e por aí fora. Veja-se o que nos diz, a dado passo, Viale Moutinho, na introdução: "... a organização desta ampla antologia, a minha ideia foi fazer uma amostragem do discurso direto camiliano, ao longo da sua vida. Temos aqui os mais diversos momentos em que ele reagiu...", isto é, na complexidade das situações que a própria vida oferece, a sua essência. O curioso do mundo camiliano vai, decerto, maravilhar-se com estas páginas e tirar mais uns apontamentos para o seu Camilo filósofo. Para finalizar, o nosso amigo comum Camilo Castelo Branco (que está com saudades das ficções moutinianas), agradece mais este trabalho ao seu confrade em letras José Viale Moutinho, enviando um grande abraço fraterno.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Barack Obama

O postal que aqui trago hoje, da minha colecção, é a caricatura de Achille Superbi (Itália), cujo trabalho obteve a menção honrosa no PortoCartoon (Museu Nacional da Imprensa) de 2009 com o título "O Riso do Mundo". Possivelmente, Obama, longe de imaginar que se viria a rir do seu sucessor, Donald Trump (num mundo rodeado de trumpamania, entre a ignorância e a estupidez), não pensou igualmente que os seus concidadãos votassem no nacionalismo e no comunitarismo retrógrado, O que nos leva a supor que os americanos não leram nunca, e mesmo se o ouviram, nas seguintes palavras em "Triunfo da Esperança sobre o Medo", discurso proferido em Washington, D. C., mais precisamente no dia 20 de Janeiro de 2009: "O que os cínicos não conseguem compreender é que o chão se deslocou debaixo dos seus pés, que os argumentos políticos caducos que nos consumiram durante tanto tempo já não se aplicam." O problema é que o cinismo povoa cada vez mais, esse cinismo máscara sem valores, num mundo cujo paradigma que conhecemos se encontra em profunda alteração, devido aos extremismos que assaltam uma Europa, a qual, pelos vistos, parece não ter apreendido nada com duas guerras mundiais. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro

LEAL, Joana d`Eça
Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro. Joana d`Eça Leal. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2016. 142 p. (Biografias do Teatro Português; 1).

Eis um livro com uma nova lufada de ar fresco a propósito dos estudos sobre o teatro em Portugal. Ao lê-lo, com novas perspectivas e abordagens historiográficas, culturais e sociológicas entre a relação de actores e actrizes com as suas companhias ou então o relacionamento que estabeleceram com a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, assim como no meio em que estão inseridos(as), a mim, particularmente, foi inspirador e com novas pistas de trabalho para desenvolver o projecto em curso "Em Busca de uma Identidade", mas este mais centrado em Vila Nova de Famalicão, numa leitura multidisciplinar. Se a actividade teatral tem, em princípio, início em 1842 na conhecida denominação "Casa de Tiatro" (António Joaquim Pinto da Silva, Imagens Famalicão Antigo, 1990), conhecendo ainda pouco da actividade da mesma até ao final do século XIX, mas com algumas indicações proveitosas, principalmente nos últimos quinze anos ou vinte anos, faltando ainda consultar a imprensa famalicense dessa mesma época, outra realidade já é demonstrada desde o início do século XX, cujas fontes já se vão encontrando mais acessíveis. Se o projecto em causa abarca o cinema, o teatro e as festas e os espectáculos entre a Monarquia e a I República (1900-1926), esta "Em Busca de uma Identidade" no encontro das raízes culturais famalicenses permite abranger uma rica leitura interpretativa societal, cujas pistas inaugurais poderão ser encontradas em "Portas da História - Vila Nova de Famalicão: 1835-2015 - I" (Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal, 2015). Relativamente ao tema que aqui proponho tratar, devido ao livro de Joana Leal, o teatro e a companhia em causa, a autora, que explora a problemática das digressões, e baseando-se numa notícia lida no "Diário de Notícias", de 6 de Agosto de 1921, focando então as famosas "tournées", evoca várias cidades por onde a companhia passava e, já na parte final, fala em "outros locais". A estes outros locais podemos acrescentar Vila Nova de Famalicão. De facto, e já na transicção da ditadura militar para o Estado Novo, a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro vem a Famalicão actuar no célebre, e agora inexistente, Salão-Teatro Olímpia. Mas, para além desta companhia, desde 1900 várias são as companhias, que a autora cita no livro, e as personalidades ligadas ao teatro que vêm a Famalicão actuar. Se até ao final da Monarquia a Companhia Teatro Lisbonense denomina o panorama da actividade teatral, actuando várias vezes em 1902, 1904 e 1906, a qual irá construir o "barracão" no então Campo Mousinho de Albuquerque para o desenvolvimento da mesma (aparecendo, por exemplo, a Companhia Dramático «Ernesto Freitas» ou a Companhia de Variedade Artur Ângelo), por seu turno, na primeira década da I República vai aparecer uma "Troupe de Variedades" (composta por artistas do Coliseu de Recreios), a Companhia Marianny, os Comediantes de Lúcifer, a Companhia de Declamação e Opereta de Lisboa; por sua vez, e já na segunda década, esta será marcada indiscutivelmente pela Companhia Carlos de Oliveira, (companhia que a autora não fala), mas vão aparecer em Famalicão as companhias do Teatro Apolo, Adelina Abranches, do Ginásio de Lisboa (Maria Matos, Mendonça de Carvalho), Luz Veloso, José Vaz, Eduardo Raposo, Ilda Stichini-Rafael Marques, Palmira Bastos, Lucília Simões-Eurico Braga, Ester Leão-Gil Ferreira, Cremilda de Oliveira-Sales Ribeiro, Alves da Cunha-Berta de Bívar ou Rafael de Oliveira. O que é certo, é que a partir de 1931 o teatro em Vila Nova de Famalicão não será relevante, não aparecendo as digressões das grandes companhias. Os famalicenses vão recorrer a outros lazeres, caso do cinema, que surgiu em 1908, com a projecção do sonoro em 1935 (aparecendo noutras localidades mais cedo), ou então nas festas tradicionais, agora com características marcadamente nacionalistas.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Primeiras Leituras do Ano





Hoje fiz a minha peregrinação a Mário Soares. Com um sol agradável, um pouco de frio, após o primeiro café matinal, lá fui até ao quiosque mais perto para comprar os jornais do dia. Mais do que relembrar os titulos que os jornais evocam (desde os noticiosos aos desportivos), e para além do do que tenho ouvido nos canais informativos, hoje devo-lhe, de certa forma, estas linhas, escritas em liberdade. Possivelmente, em ditadura, não as iria escrever, ou se as escrevesse seriam censuradas. Depois, com os jornais, uma rápida ida ao alfarrabista e lá encontrei a entrevista de Mário Soares "Portugal: que revolução?", publicado em 1976, uma entrevista conduzida em diálogo com Dominique Pouchin, encontrando igualmente de Victor de Sá "Regressar Para Quê?", com uma dedicatória curiosa: "Para o velho Amigo Américo Campos Costa, respondendo à sua pergunta - "E agora o que vais fazer?" - e em confirmação da minha estima de sempre", com a data de Abril de 1970. Desde o início do ano que tenho adquirido a nova colecção do jornal"Público" dedicada ao fado, mas também numa releitura ao "Romanceiro do Povo Miúdo", de Lino Lima, um outro combatente à ditadura salazarista e um combatente pela liberdade, cujo centenário de nascimento o Município de Vila Nova de Famalicão vai este ano comemorar. Paralelamente, à leitura do livro de Lino Lima, os livros de Santos Simões, Eduardo Ribeiro, Santos Simões, Armando Bacelar ou o livro "Os Democratas de Braga", organizado por Artur Sá da Costa, Henrique Barreto Nunes e José Viriato Capela, vão servir de apoio para uma compreensão mais abrangente do que esses resistentes pela liberdade não só no distrito de Braga, como a nível nacional, realizaram. Puxo agora de um cigarro e ontem já me deliciei com Ingmar Bergman e a sua "Lanterna Mágica", a bom preço na Bertrand, assim como "A Morte da Canária", de S. S. Van Dine, Registo, indiscutivelmente, adquirido hoje a bom preço o folheto publicado em 1961 sobre Vila Nova de Famalicão e as "Ambições Frustradas" de Alberto Moravia. Mas Mário Soares ficará indiscutivelmente, quer se goste ou não, na História de Portugal, ultrapassando as fronteiras, na sua dimensão europeia e mundial. Para além da Liberdade e da Democracia, actualmente em deriva, o que nos fica de Soares é que aquilo em que acreditamos e não devemos desistir e lutar por uma sociedade melhor. Retribuo com um abraço fraternal o abraço com que me dedicou em 2014 na Academia das Ciências da História, a propósito da Lição que realizou sobre Bernardino Machado, no livro cuja capa aqui publiquei ontem. Já está com os deuses a pôr ordem política no Olimpo. Das palavras que então proferiu sobre Bernardino Machado, tal como o próprio Mário Soares, evoco a fidelidade aos valores da liberdade e da democracia. A imagem reproduzida é a primeira página do jornal "Público".

sábado, 7 de janeiro de 2017