segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Cruz Vermelha em V. N. de Famalicão (1916)


Fonte:
www.ordens.presidencia.pt
O Presidente da República Bernardino Machado na Câmara Municipal de Lisboa, no seu segundo mandato (1925-1926), coloca a insignia de Grande-Oficial de Cristo na bandeira da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, nas comemorações do 9 de Abril (Fonte, "Diário de Notícias")

Para o Dr. Manuel Sá Marques, mais uma crónica destes tempos conturbados

Aquilo que poderia a segunda festa cívica de solidariedade em V. N. de Famalicão, em tempos de guerra, cuja receita seria em favor da Cruz Vermelha, tal não aconteceu. Houve pelo menos duas tentativas. O primeiro apelo surgiu em 30 de Abril e os famalicenses poderiam ler na seguinte crónica intitulada “Pela Patria” que “agora que por todo o lado se promovem subscrições e festas para o fim humanitário da Cruz Vermelha obter os recursos exigidos pela sua missão de altruísmo”, o autor da crónica, sem identificação, diz que “Famalicão não deve esquecer-se de seguir esse nobre exemplo de patriotismo. / Porque não se processam recursos para um festival no Olímpia, cujo produto reverteria para os feridos em campanha?” No mesmo dia, Manuel Pinto de Sousa, na sua crónica “Trabalhar” faz o mesmo apelo, pedindo “às damas de Famalicão” toda a cooperação para a Cruz Vermelha. Por seu turno, na crónica de 14 de Maio, com o título “Cruz Vermelha”, os famalicenses também vão ler o convite que o “Estrela do Minho” lhe dirige – “criando aqui uma sucursal da Cruz Vermelha, para a qual se promovam também auxílios”. Em 21 de Maio, a comunidade famalicense toma conhecimento que o novo presidente da assembleia-geral da Cruz Vermelha em Portugal é o general Joaquim José Machado, antigo governador de Moçambique e que em 4 de Junho saberá que o secretário da Cruz Vermelha esteve em Famalicão, mais propriamente na Tipografia Minerva, para a publicação de uma monografia, com muitas gravuras elucidativas, para os curativos a fazer aos feridos da guerra, uam espécie de manual de primeiros socorros. A primeira tentativa para a realização de uma festa no Olímpia para angariação de fundos para a Cruz Vermelha, sabem-no os famalicenses em 28 de Maio nos seguintes termos: “Por iniciativa de um grupo de gentis senhoras de Famalicão, está organizando uma comissão da qual fazem parte cavalheiros da maior respeitabilidade da nossa terra, que projecta organizar um espectáculo no Salão Olímpia – generosamente cedido pelo seu proprietário, sem remuneração alguma e cujo produto é destinado à Cruz Vermelha Portuguesa.” Entre os ensaios que entretanto se iam realizando, constando do programa coros de música e uma comédia, tudo executado por senhoras, passando pela criação de uma delegação em Barcelos e pela actividade organizativa e preparação das ambulâncias, os famalicenses sabem (em 18 de Junho) que, entretanto, já tinha partido para Moçambique “o pessoal sanitário para um hospital em Porto Amélia”, até que, em 23 de Julho, tomam conhecimento que o espectáculo já não se realizaria. A explicação é dada nos seguintes termos: “Dificuldades várias fizeram frustrar tão simpática iniciativa, para a qual aquelas senhoras se esforçaram com amor por levar a bom termo tão generoso empreendimento.” A segunda tentativa para uma festa de solidariedade cívica para a Cruz Vermelha em Famalicão, tomam conhecimento os famalicenses em 22 de Outubro com a seguinte notícia, anunciando a fundação da delegação: “Iniciaram-se os ensaios para o espectáculo que proximamente vai realizar-se no Salão Olímpia, em favor da Cruz vermelha, cuja delegação na nossa terra vai ser inaugurada dentro de poucos dias. / Sabemos que o nosso orfeão oferece o mais entusiástico auxílio para este espectáculo, cujo produto, no momento em que atravessamos não pode ter mais belo e oportuno destino.” Se a festa não se vai realizar, desconhecendo-se os motivos, a constituição e a fundação de uma comissão municipal da Cruz Vermelha vai concretizar-se informalmente neste ano. Em 3 de Setembro, no seu editorial, o “Estrela do Minho” dá a conhecer aos famalicenses a criação da futura delegação da Cruz Vermelha em Famalicão, enaltecendo os fins altruístas da mesma instituição. A sessão preparatória realizou-se no salão nobre da Câmara Municipal em 19 de Novembro e a 26 de Novembro, em notícia publicada em 3 de Dezembro, os famalicenses ficam a saber que nessa sessão, presidida por Sousa Fernandes (secretariado por Delfim de Carvalho e António Dias Costa), este afirmou que “expôs à assistência qual o fim altruísta e humanitário da obra admirável da Cruz Vermelha, do socorro bendito que ela vai levar aos feridos da guerra, como ainda em qualquer calamidade pública, em tempo de paz. E de como Famalicão se dignifica secundando a sua obra benéfica toda abnegação e em benefício dos que do auxílio colectivo necessitam.” Os famalicenses ficaram também a saber que se lavrou em acta os trabalhos da sessão, a qual foi assinada por todos os assistentes, tendo sido enviada à sede da Sociedade da Cruz Vermelha, para que esta instituição desse a sua aprovação para a instalação de uma delegação em V. N. de Famalicão. Tal aconteceu em 1917. De salientar, é o facto das receitas do livro de Matias Lima “Pela Pátria”, que o próprio autor então disponibilizou , custando na época 200 réis, e podia ser encontrado na Livraria Lello & Irmão, no Porto, assim como em Famalicão na Casa Gaspar Pinto, terem sido doadas para a Cruz Vermelha Portuguesa.


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