sexta-feira, 31 de maio de 2013

Do Saudosismo ao Atlantismo




Encontra-se patente ao público no Museu Bernardino Machado (entre 1 a 14 de Junho de 2013) a exposição intitulada “Do Saudosismo ao Atlantismo: de Teixeira de Pascoaes a Vicente Risco”, organizada pela Fundación Vicente Risco (Allariz, Ourense). Se, num primeiro plano, o visitante descobre as relações de amizade entre Vicente Risco e Teixeira de Pascoaes, num segundo plano, descobre a ideia filosófica da saudade, na teorização de Pascoaes vista pelo pensador galego. Com referências a personalidades e a intelectuais portugueses, como Hernâni Cidade, Mendes Correia, Leonardo Coimbra, Álvaro Pinto, António Carneiro, Jaime Cortesão, Raúl Proença, António Sérgio e Aquilino Ribeiro, surge a referência ao atlantismo em conformidade na ideia de uma pátria simbólica entre Portugal e a Galiza, nas suas raízes culturais. Evidenciando a exposição os dois movimentos que marcaram de forma indelével a vida cultural da I República, numa primeira fase a Renascença Portuguesa com o seu órgão oficial “A Águia” e numa segunda com o movimento da “Seara Nova”, patente no quadro referencial “Vida Portuguesa”, acompanha a exposição um documentário sobre as relações culturais da Galiza e de Portugal. A entrada é gratuita.









segunda-feira, 27 de maio de 2013

António Sérgio, o Pedagogista Social



PALAVRAS-CHAVE
Racionalismo. Razão. Neo-Iluminismo. Método. Pedagogismo Social. Educação Nova. Mentalidades. Trabalho. Ensino profissionalizante. Descentralização

RESUMO

Partindo do facto de António Sérgio não ter sido uma personalidade consensual, mas admitindo a sua influência na cultura portuguesa do século XX, Sérgio Campos Matos, analisa, num primeiro momento, a problemática do intelectual e do seu papel no campo social, na obra e no pensamento do autor em questão face ao ensaísmo. Partindo do princípio de que há uma relação profícua entre a filosofia e a pedagogia em António Sérgio, a educação será um meio para a reforma das mentalidades, isto é, a educação surge em António Sérgio como um meio para alargar horizontes. Partidário da instrução democrática, a sua prioridade centrava-se na reforma das mentalidades, na qual se deveria cultivar a formação de uma opinião pública crítica. Neste sentido, criticando o ensino dogmático e livresco, e influenciado pelo Instituto Jean-Jacques Rousseau, partidário da educação nova, e pela pedagogia anglo-saxónica, defende a criação dos institutos para a investigação, valoriza o ensino profissional, defende a ideia da formação de novas élites, isto é, novos educadores, face às falsas élites, como era o caso do “bacharelismo”, para a promoção de uma nova sociedade portuguesa. António Sérgio, com base na Educação Nova, defende a ideia de uma escola do trabalho, voltada para as actividades produtivas, autónoma, um ensino voltado para o concreto, assim como a descentralização do ensino.



 O Prof. Sérgio Campos Matos num momento da sua palestra "António Sérgio Pedagogo"

É com imenso prazer estar de novo (este presente no Ciclo de Conferências “Lutas Académicas e Estudantis” – 1890-1891: Republicanismo Radical e Movimentos Estudantis”, Fev. 2007; e no Ciclo de Conferências “As Grandes Questões da I República” – “A Seara Nova e os Problemas Nacionais na I República”, Set. 2010) no Museu Bernardino Machado, numa casa que tem uma programação cultural que muito considero. Proponho-me falar de “António Sérgio Pedagogo” e vou começar por lembrar por algo que é relativamente banal, mas que será um ponto de partida para um pequeno percurso, e que é o facto de António Sérgio, ao longo da sua vida, não ter sido nada consensual. A vida dele (nasceu em 1883 e faleceu em 1969) atravessa várias épocas (final da Monarquia, a I República, a Ditadura Militar e o Estado Novo e travou polémicas com pessoas muito próximas dele, como foi com Jaime Cortesão, por exemplo, logo nos primeiros anos da I República, com tradicionalistas, os homens do integralismo lusitano, e que alguns viriam a apoiar o Estado Novo, com apoiantes do Estado Novo, mas também com críticos do salazarismo, marxistas, caso de António José Saraiva, antes com Bento de Jesus Caraça, enfim, foi de tudo menos um homem consensual; e, no entanto, exerceu uma profunda, e independentemente de se gostar ou não dele, influência na cultura portuguesa contemporânea, na cultura de élite, digamos assim, e a pergunta que formulo à partida é: como é que se pode explicar esta influência que teve, que foi uma influência muito grande, que vai até aos anos sessenta e setenta, e depois da morte dele declinou a sua presença, tendo sido a sua obra muito criticada, e vou tentar explicar como é que, de alguma forma esta marca dele foi tão presenta, a ponto de nós termos já nos anos oitenta, na “Revista de História das Ideias” um número duplo dedicado à sua obra, depois em 2004 um colóquio no Porto, na Universidade Católica, denominado “Pensamento e Acção” (dois volumes na Imprensa-Nacional) e, mais recentemente, na Faculdade de Letras de Lisboa um novo colóquio dedicado à Seara Nova, com a tríade de três grandes figuras: António Sérgio, Jaime Cortesão e Raúl Proença.


O Prof. Norberto Cunha (coordenador científico do Museu Bernardino Machado), na apresentação do conferencista convidado

Olhamos para trás, e no século XX em Portugal, se vê que este homem que foi um ensaísta, e que escreveu sobre as mais variadas temáticas (ensaios de história, ensaios dedicados à literatura, a figuras como a Camões ou a Eça de Queirós, à política, à filosofia, à actualidade), com uma obra muitíssimo variada, e olharmos para trás, no século XX, temos diversas gerações de intelectuais, caso de políticos, homens ligados à história (caso de Vitorino Magalhães Godinho, Joel Serrão, Barradas de Carvalho, Borges de Macedo), têm uma marca, pela leitura que fizeram, ou das leituras, de António Sérgio. Na medicina, na matemática (Tiago de Oliveira), nos estudos literários (David Mourão-Ferreira, Jorge de Sena), todos estes homens reconheceram a presença no seu pensamento das leituras que fizeram de António Sérgio. Isto remete-nos para o lugar muito especial que António Sérgio ocupa na cultura portuguesa do século XX. Como intelectual, num tempo, é bom lembrar aqui que a figura do intelectual enquanto homem de pensamento político, ou a actuação dos intelectuais em bruto, é algo que vem muito depois, evidentemente, mas que, no final do século XIX, é muito evidente a difusão do termo “intelectual” que remete para aquele que tem ou adopta um pensamento crítico em relação ao estado das coisas, pensando criticamente e que intervém na coisa pública, intervém na Rés-Pública. Ora, coloca-se aqui o problema da função social dos intelectuais, alguma coisa que, evidentemente, esta geração de António Sérgio, que é também a geração de Fernando Pessoa, que é também a geração de Raúl Proença, que é a geração de Jaime Cortesão, quer dizer, grandes figuras do século XX português, e que vai levar, direi, digamos estes homens, sobretudo estes três, Cortesão, Sérgio e Proença, levam esta ideia do intelectual como portador de um pensamento crítico, levando-a até às últimas consequências. Podemos pensar, como disse há pouco, como é que a sua figura, a de Sérgio, cai no limbo do esquecimento. Há uma altura em que se desvaloriza o ensaísmo, num tempo em que olharmos para o século XX, nós vemos que há uma grande tendência, na primeira metade do século XX, no sentido da especialização dos saberes, no sentido da profissionalização dos mais variados campos, Tendo em conta esta tendência é claro que o ensaísmo que, no fim de contas, uma reflexão mais geral sobre problemas dos mais variados, é evidente que do lado dos cientistas, dos geógrafos, dos historiadores e nas grandes ciências exactas (caso de Bento Jesus Caraça) houve objecções a António Sérgio e, por vezes, objecções com grande pertinência, lembrando oc aso da historiografia (caso de Borges de Macedo, e outros, que levantaram alguns problemas a conceitos que Sérgio utilizou).



 Mais um momento da intervenção da Prof. Sérgio Campos Matos

Este tempo de desvalorização do ensaísmo, creio, no entanto, que está a passar. A certa altura olhou-se de esgueira para o ensaísmo, um terreno de ninguém, pessoas que se pronunciam e levantam problemas sobre as mais diversas matérias (estou a lembrar-me da crítica que Orlando Ribeiro faz à introdução da História de Portugal relativamente à abordagem geográfica, do lado da história, por exemplo, o conceito de estrangeirado, que é muito colocado em causa por Jorge Borges de Macedo, etc.) No tempo em que estamos, em que se procura aproximar as diferentes ciências, o espírito ensaísta, que Sérgio assim designava, ou seja, o espírito problemático, o espírito da dúvida, da selecção, voltou, de alguma forma, a ter o seu lugar e a sua força. Vejamos agora qual será a ideia que Sérgio tinha de ensaio, a ideia ou o conceito de ensaio e como é que ele se via a si. Ele , no fundo, não era nem historiador, nem se dizia especialista em coisa nenhuma, falava de si próprio como um ensaísta, um prosador de ideias, como um apóstolo de ideias, como um afinador do intelecto; e é este homem que, de alguma maneira é um herdeiro das ideias do século das luzes, com a crença no progresso, na crença da razão, na crença de que sempre possível esclarecer as ideias e levar o pensamento mais longe e tornar claro, no fundo, iluminar, é um pouco isso, estamos aqui com a ideia da metáfora da luz, o tornar claro, António Sérgio valorizou o método, a atitude problemática e que disse de si próprio, em 1957, já próximo no final da sua vida, que “Sou apenas um pedagogo, uma sorte de pregador”, imagem religiosa que remete para o que ele às vezes dizia, que era um apóstolo das ideias, um filósofo, um campeador pela cultura pelo bem do povo, cujo único cuidado, dele próprio, seriam as pedras vivas que sofrem, ou seja, os humanos; e aqui temos já uma componente que podíamos chamar do seu humanismo, o humanismo universalista, e que, no fundo, era Sérgio um clássico no século XX, de formação humanista, e tem essa intenção de contribuir para a formação das pessoas para uma acção constante de pedagogia social e, portanto, de uma missão especial, como estiveram os românticos, os homens do Renascimento, o ideal da República das Letras que vem da antiguidade, mas, no caso de Sérgio, nós reconheceríamos aqui qualquer coisa que pode parecer um pouco deslocado no tempo, que é a ideia de ele ser um clássico. Às vezes fala-se da pedagogia de António Sérgio, mas esquece-se da relação da pedagogia com a filosofia. Ora, a dimensão filosófica da obra dele, é muitíssimo marcada. Gostava de dizer duas ou três coisas sobre o seu racionalismo neo-iluminista, os seu racionalismo crítico. Disse um dia (1925), procurando caracterizar a sua posição filosófica, que “o racionalismo não é um sistema, mas um método, método que significa caminho-para”. Diz ainda que “o racionalismo é um processo de dialéctica que se alteia de voo em voo para o ideal de unidade radical do espírito”. Esta ideia da unidade é muito presente em António Sérgio, na dimensão do uno-unificante. Em “António Sérgio: Sérgio como mito cultural” (1969), Eduardo Lourenço põe em causa o que António Sérgio cultivava, nomeadamente o espírito da problemática, a dúvida metódica, construindo Sérgio õ seu Descartes e o seu Kant ideal, sendo um dos pontos de crítica o seguinte: é que se Sérgio tem esta retórica da dúvida, o espírito problemático do ensaio, a verdade é que António Sérgio nunca põe em causa as suas categorias apriori do seu racionalismo, ou seja, categorias como, por exemplo, a razão, o dever-ser racional, o conceito de justiça, que Sérgio considerava um conceito eterno, o próprio conceito de bem (platónico), ou mesmo o da Democracia, do qual dizia que a Democracia é eterna, porque está na própria imanência da consciência humana; mas para Eduardo Lourenço, Sérgio nunca põe em causa estes seus princípios racionalistas, estando patente na ideia de António Sérgio a ideia do todo. E isto é importante para percebermos as próprias ideias pedagógicas de António Sérgio porque justamente para ele educar (interessou-se pela pedagogia logo nos primeiros anos da I República) é como um meio para aquilo que ele considerava ser a reforma das mentalidades, reformar a sociedade portuguesa através da educação, da escola, mas também através da economia (a questão formal do regime não lhe interessa, considerando que era uma questão secundária, tal como o foi para Antero de Quental e para Oliveira Martins), mas há aqui a ideia de que para Sérgio educar “é favorecer o crescimento da capacidade de racionalização, de espiritualização, de universalização e superar os limites vários que confinam o indivíduo numa pátria, num grupo” (Ensaio – I)., ou seja, de alargar horizontes, isto é, educar no sentido de alargar horizontes. Esta ideia de que há uma razão, uma capacidade que é superior à percepção sensível, é este racionalismo que domina a atitude pedagógica sergiana e este racionalismo não é apenas um racionalismo que tenha a ver com uma dimensão epistemológica, de teoria do conhecimento, não tem apenas uma dimensão ética (fala não só de um racionalismo como método e o problema é que nos fala também de um racionalismo como doutrina, sustentando que a razão é superior à percepção das coisas), sendo a razão para Sérgio um ideal de harmonia, um ideal da busca de paz, da justiça, etc., quer dizer, tem também uma dimensão moral. A pedagogia em António Sérgio é comandada pela sua posição racionalista.



 O auditório

Mas antes dos tópicos fundamentais da sua pedagogias, queria só lembrar para percebermos melhor a posição heterodoxa de António Sérgio porque, na verdade, ele não apoiou a I República, foi muito crítico relativamente à I República, muito crítico em relação à Ditadura Militar e ao Estado Novo, e definiu-se a si próprio como um democrata anti-jacobino, como um anti-clerical (“anti-clerical mas respeitador do catolicismo” – Ensaios – I), e agora vem a pedagogia, partidária da instrução democrática, mas inimigo da “superstição do A, B, C.”, isto é, achava que o ler, o escrever e o contar, como se dizia no Estado Novo, o alfabetizar, isso, para Sérgio, era relativamente secundário porque ele, decerto, considerava que havia gente analfabeta muito culta, tal como Adolfo Coelho já o tinha considerado antes dele. Os terrenos do ensaísmo e do pedagogismo social eram terrenos, de alguma forma, de heterodoxia, dum terreno de heterodoxia diferente daquele que será o de Eduardo Lourenço, mas António Sérgio é alguém que leva até às últimas consequências o combate contra o dogmatismo, os dogmatismos, no sentido de um pensamento crítico, de uma atitude crítica, uma atitude indagadora e crítica. No fundo, era o que ele queria dizer quando falava da reforma das mentalidades, conceito um pouco vago, é verdade, que Raúl Proença também usou, a reforma das mentalidades, como uma prioridade, não a mudança formal do regime, mas era fundamental cultivar a ideia de uma discussão aberta, um livre-exame, sendo esta, precisamente, a sua ideia para a reforma das mentalidades. No que respeita aos diferentes campos da escola, do ensino, da formação, aquilo que ele chamava as pedras vivas, Sérgio pronunciou-se sobre todos os graus de ensino, criticando a escola primária do seu tempo, criticou o carácter livresco mnemónico, dogmático do ensino. Não foi muito original, deve dizer-se, mas, no conjunto, o seu pensamento, que em larga em medida se forjou no contacto com o Instituto Jean-Jacques Rousseau (Genebra, em 1914 e 1915), frequentando-o, entrando em contacto estreito com pensadores da chamada Educação Nova, que defendiam a ideia do ensino de uma escola para a vida, das actividades de descoberta, que nada tinha a ver com o ensino baseado no livro, tem Sérgio a ideia muito clara para fazer uma crítica que vai desde a Universidade (a qual deveria ser autónoma e deveria criar um verdadeiro espírito universitário), insistindo na ideia da defesa e na criação dos institutos de investigação, sendo necessário formar pessoas, investigadores no estrangeiros, foi, assim, todo um combate que ele fez e foi como ministro de instrução que tentou criar a Junta Geral de Estudos, que seria, no fim de contas, a antecessora do Instituto de Alta Cultura. As propostas de António Sérgio vão no sentido, depois, de valorizar o ensino profissional, fala mesmo de um ensino de continuação, uma ideia que tinha apreendido em genebra, que seria uma espécie de ensino profissionalizante, destinado aos jovens que não entrassem nas universidades. Mas a grande preocupação de António Sérgio tem a ver com um tópico central do seu pensamento, que é a tentativa de formar élites, isto é, ideia de formar educadores, formar gente que pudesse de alguma maneira substituir aquilo que ele considerava ser as falsas élites que dominavam a sociedade portuguesa. Esta é uma questão absolutamente central em António Sérgio que é a questão da formação de élites, formação de uma opinião pública, vigilante, crítica, que permita aos portugueses resistir aos excessos, não apenas aos excessos do poder, mas justamente que se pudesse construir um país melhor, através de uma intervenção cívica, a participação das pessoas na coisa pública e não se refluíssem para a vida privada (uma ideia já bem patente em Alexandre Herculano). Há uma questão interessante que é a questão da justificação histórica duma intervenção pedagogista que faz, que é, no fundo, ao olharmos para trás, para a História de Portugal (Sérgio inspira-se muito em Antero de Quental), e que é a ideia de que os portugueses tinham tido uma educação guerreira, o regime da educação guerreira, explicando tal educação a fraca propensão dos portugueses para actividade produtiva, cuja educação teria provocado a decadência (Jaime Cortesão criticou-o por isso mesmo e com razão). Mas é há volta desta ideia de que os portugueses tinham uma fraca aptidão para as actividades produtivas, mais propensão para a circulação, a que chamará de política de transporte, e depois para a especulação. Sobre esta perspectiva crítica da História de Portugal, vai empenhar-se na defesa de uma escola nova, a apologia da escola do trabalho, que é uma escola voltada para as actividades produtivas, mais ligada à vida, e não apenas só com o trabalho intelectual. Isto pode parecer surpreendente porque se pensarmos que se ele é um racionalista, que ao mesmo tempo reflecte sobre as categorias da razão mais abstracta, no entanto, tinha essa preocupação com o ensino, um ensino bem concreto, voltado para avida. Era, no fundo, um homem também muito voltado para os ensinamentos da educação anglo-saxónica. Num texto de 1917, intitulado “A Função Social dos Estudantes”, texto interessante, sobretudo, pela crítica que faz à escola da época, neste texto Sérgio, ao elogiar a educação anglo-saxónica, seguia essa mesma educação. Falando das diferenças entre os portugueses e os ingleses, e os continentais em geral, dizia que os ingleses mantém as formas e mudam as estruturas, reformam as estruturas, os portugueses estão sempre a mudar as formas e mantém as estruturas. Para além da ideia de autonomia e do concreto no campo da pedagogia sergiana, há também uma outra ideia importante que é a ideia da descentralização do ensino, já que o ensino deve partir dos problemas regionais, tendo a ver com as práticas das comunidades. Há depois a ideia da formação do cidadão, que é uma ideia muito republicana, a ideia da escola ao serviço do treino e da formação dos cidadãos: há pontos de contacto entre os republicanos e Sérgio, mas não é a mesma coisa.




A Pedagogia de António Sérgio fundamenta-se na sua própria filosofia, por um lado, no seu racionalismo e, por outro lado, na ideia de que na nossa história se foi formando uma espécie de parasitismo, que vem de Oliveira Martins, ou seja, a ideia de que os portugueses se desleixaram das actividades produtivas, ao privilegiarem o sector terciário, as actividades de circulação e depois esta ideia do estatismo, que prevalece em alguns casos, da dependência face ao Estado, de se ficar há espera que o Estado resolva os problemas dos cidadãos, percebe-se a crítica que Sérgio faz aquilo que ele considerava ser o “bacharelismo”, o protótipo de todos os vícios da sociedade portuguesa. Este “bacharelismo” de Sérgio tem precisamente a ver com a formação das falsas élites, sendo o que ele queria eram as verdadeiras élites que formassem a opinião pública em relação a um país que se superasse a si próprio, em larga medida através da reforma da educação, da reforma da escola.
Não quero deixar de concluir sem voltar à questão inicial, a qual tinha a ver com a influência e a sua presença se manter viva e continuam-se a publicar estudos sobre a sua obra. Como é que podemos explicar esta permanência que, no fundo, tem a ver com esta palestra, que é “António Sérgio Pedagogo”? Do meu ponto de vista, para além da abrangência temática, e concorde-se ou não com as suas ideias, a verdade é que António Sérgio contribuiu como pôde para agitar as águas paradas da cultura portuguesa no Estado Novo, com polémicas vivíssimas, com os mais variados sectores ideológicos, introduziu novos conceitos e, para além disto, temos o carácter pedagógico da sua obra, e, na verdade a sua obra continua a ser fluída com o seu carácter pedagógico e, depois, não ficámos indiferentes; e uma das justificações para a permanência da sua obra tem a ver com o seu racionalismo crítico, no qual se reflecte o seu humanismo universalista.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Bernardino Machado e a Imprensa Famalicense - 1909

Hotel Vilanovense. A sede do Centro Republicano Dr. Bernardino Machado ficava, então, em 1909, na Rua Adriano Pinto Basto, no lado direito da imagem.
(António Joaquim Pinto da Silva – Imagens de Famalicão Antigo. V. N. de Famalicão: Câmara Municipal, 1990).

O ano de 1909 marca uma nova etapa da Comissão Municipal do Partido Republicano Português em V. N. de Famalicão, com a inauguração da sua sede, mais propriamente em 14 de Novembro, chamando-se então Centro Republicano Dr. Bernardino Machado. Para além da inauguração de mais um centro de irradiação de propaganda e de instrução, discursando nele Bernardino Machado, realizou-se igualmente uma homenagem ao republicano Gonçalves Cerejeira. E se um dos propósitos dos republicanos famalicenses era a publicação dos estatutos do referido centro republicano, o mesmo nunca o consegui encontrar. Possivelmente nunca foi publicado. Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de fraterna amizade.


·         “Conferencia Democratica”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 15, n.º 742 (21 Nov. 1909), p. 2.

Atingiu extraordinário brilho a festa realizada no domingo passado pelo partido republicano de Famalicão e que, constou da inauguração do retrato do falecido Dr. Gonçalves Cerejeira e da eloquentíssima conferência do eminente professor e prestigioso membro do directório republicano Dr. Bernardino Machado.
Cerca das 3 horas da tarde, a sala do Centro Republicano Bernardino Machado, instalado em prédio contíguo ao Hotel Vilanovense, estava completamente ocupada, por uma numerosa assistência, entre a qual se notava individualidades destacantes do partido republicano.
Do Porto, viam-se, entre outros, os srs.: dr. Ângelo Vaz, A. Araújo Costa, Vitorino Coimbra e Laurindo Mendes; de Braga, estavam os srs. drs. Manuel Monteiro, Joaquim de Oliveira, Justino Cruz, Bento de Pinho e Bento de Oliveira; de Barcelos, o sr. dr. Martins Lima; de Guimarães, o sr. João Veloso e o sr. A. L. de Carvalho; de Esposende, o sr. dr. Fonseca Lima; da Póvoa, o sr. Joaquim Pereira Sampaio. Todos estes cavalheiros representavam comissões municipais ou agremiações republicanas.
Os centros de Vilar do Paraíso e de Valadares fizeram-se representar pelo sr. dr. Florido Toscano, representando o sr. dr. Ângelo Vaz a comissão de Santo Ildefonso e o sr. Laurindo Mendes o Centro Alves da Veiga.
Ao entrar na sala o sr. dr. Bernardino Machado, que vinha acompanhado pelo presidente e outros membros da comissão municipal republicana foi calorosamente saudado com palmas e vivas entusiásticas.
O sr. Sousa Fernandes, subindo ao estrado da presidência, diz que na qualidade de presidente da comissão municipal republicana de Famalicão, lhe cumpria abrir a sessão. Acentua, depois, a importância dos centros democráticos de propaganda e instrução. Organizando naquela vila um desses núcleos, criava-se uma obra cuja utilidade não beneficiava apenas o partido republicano, visto que ele concorria também para a instrução e educação cívica do povo.
Na sessão que acabava de declarar aberta ia inaugurar-se o retrato dum conterrâneo, o dr. Gonçalves Cerejeira, que foi um valioso e dedicado partidário. Para fazer o perfil do delicado poeta morto, a quem tanto interessava a causa do povo, fora convidado o distinto orador sr. dr. Manuel Monteiro digno presidente da comissão republicana de Braga. Ninguém melhor do que o talentoso advogado, que conhecera e estimara o poeta, poderia desenhar-lhe com realce a figura moral.
O sr. Sousa Fernandes, depois de ter para o sr. dr. Manuel Monteiro as mais elogiosas referências, faz um caloroso elogio ao sr. dr. Bernardino Machado, pondo em relevo o desinteresse admirável e a hombridade nobilíssima que distinguem e enobrecem todos os seus actos de homem público.
O sr. Sousa Fernandes faz depois a apologia do credo republicano e afirma a necessidade de instruir e de educar o povo, pelo jornal, pelo livro e pela conferência. Turgot disse que a ignorância perpetua o despotismo e o despotismo perpetua a ignorância; parafraseando pode dizer-se que a monarquia perpetua a falta de instrução para que a falta de instrução perpetue a monarquia.
Aponta em seguida o desinteresse dos que trabalham na propaganda republicana; e depois de tecer os mais altos elogios ao sr. dr. Bernardino Machado, remata erguendo ao ilustre democrata um viva que foi entusiasticamente correspondido.
O sr. Sousa Fernandes convida depois para presidir à sessão o sr. Florido Toscano, que saudado calorosamente, toma a presidência com palavras de agradecimento e nomeia secretários os srs. drs. Martins Lima e Fonseca Lima.
Seguidamente, o sr. presidente dá a palavra ao sr. dr. Manuel Monteiro, que é longamente saudado pela assembleia.
O talentoso advogado bracarense principia por agradecer as p+alavras que o sr. Sousa Fernandes lhe dirigiu e exprime depois em termos calorosos, o respeito, a admiração e a elevada estima que lhe merece o sr. dr. Bernardino Machado.
Passa depois a falar de Gonçalves Cerejeira, que conheceu estudante em Coimbra.
O sr. dr. Manuel Monteiro, que é um orador brilhante, de palavra fácil, de expressão simples, mas elegante e colorida, conta o que foi a vida curta do poeta.
O sr. dr. Manuel Monteiro, que pronunciou um magnífico discurso, foi entusiástica e longamente aplaudido.
Tomou depois a palavra o sr. dr. Bernardino Machado que recebeu, ao subir para o estrado, uma comovente vibração de brilhante entusiasmo.
O ilustre democrata depois de agradecer as palavras que lhe tinham dedicado os srs. Sousa Fernandes e dr. Manuel Monteiro, deu princípio à sua conferência subordinada ao tema: «Têm Liberdade os Monárquicos em Portugal?»
Durante mais de uma hora o eminente professor desenvolveu, com raro poder de clareza e de lógica, o assunto difícil da sua conferência que, sendo longa, não pode ter nas colunas do nosso pequeno jornal, a desenvolvida referência que de todo o ponto merecia.
O sr. dr. Bernardino Machado dizendo que hoje nós somos uma nação de vencidos, pergunta quem é livre e governa em Portugal. Os republicanos de certo que não, porque lhe são negadas todas as regalias, todos os direitos, todas as liberdades. Mas se os republicanos são esbulhados dos seus direitos, os monárquicos também não governam, porque ninguém faz caso deles. Os partidos monárquicos não são associações liberais; os chefes ordenam soberanamente e os correligionários obedecem submissamente. E nem os seus chefes são livres, porque estão vinculados ao paço. Entre o partido e o paço, optariam pelo paço, como disse, sem rebuço, o sr. Wenceslau de Lima.
O próprio poder legislativo vive na sujeição. Os pares e os deputados, uns e outros de nomeação ministerial, dependem inteiramente dos ministros.
Mas, ao menos, a magistratura judicial monárquica, será independente? Ninguém esqueceu o decreto ditatorial a que a sujeitou João Franco, nem a transferência para as ilhas que ele infligiu de castigo a um nobilíssimo juiz de direito; e a cada passo, salvo honrosas excepções, aí testemunham a sua subserviência tanto o tribunal de Verificação de Poderes, como os tribunais ordinários nos processos de recenseamento eleitoral. Até na magistratura um acto de independência é um acto de insurreição.
Nem economicamente nem religiosamente os monárquicos governam com liberdade: «Não – exclama o ilustre orador –, não são os monárquicos independentes que governam o Portugal monárquico de agora.
São as clientelas que nos tiram as liberdades políticas operando a reacção rotativa; são os sindicatos que nos tiram as liberdades económicas, operando a reacção franquista; são as congregações que nos tiram as liberdades religiosas, operando a reacção clerical. E aqui está sem agravo para nenhum dos seus membros honrados, colhidos nas suas malhas, o que são e para que servem os actuais partidos governamentais: para tirar a independência a todos, incluímos os monárquicos.»
Demonstra, depois, como a reacção clerical domina a situação política e afirma que a monarquia não pode viver com a liberdade.
Aponta os perigos do clericalismo e diz: «Há em Portugal um povo independente; tem o já demonstrado eloquentemente os republicanos, convocando-o, reunindo-o. Contém com ele os liberais e desempenhem a sua missão histórica.»
Remata depois a conferência falando de Famalicão, dos tempos de mocidade que ali passou, das figuras destacantes na política liberal desse tempo.
Ao terminar o seu notável discurso, o sr. dr. Bernardino Machado foi aplaudido com um extraordinário ardor de entusiasmo sendo muito cumprimentado e abraçado pelos seus amigos.
O sr. presidente levantou a sessão em meio de vivas calorosos.
«Às seis horas da tarde, foi oferecido pelos republicanos de Famalicão, no Hotel Vilanovense, um banquete ao sr. dr. Bernardino Machado. Tomaram parte nele 51 convivas presidindo o sr. Sousa Fernandes, que tinha à direita os sr. drs. Bernardino Machado, Manuel Monteiro e Joaquim de Oliveira, e à esquerda os srs. drs. Florido Toscano, Martins Lima e Fonseca Lima.
O banquete que foi primorosamente servido, decorreu na maior cordialidade. Ao champagne iniciou a série dos brindes o sr. Sousa Fernandes que saudou o sr. dr. Bernardino Machado. Seguiram-se-lhe os srs. dr. Florido Toscano e Martins Lima, que beberam à saúde dos srs. drs. Bernardino Machado e Sousa Fernandes e dr. Manuel Monteiro; Sousa Fernandes que brindou aos srs. Florido Toscano, Martins Lima, Fonseca Lima, Manuel Monteiro, Ângelo Vaz e Vitorino Coimbra; Joaquim Faria, presidente da juventude republicana de Braga, aos republicanos de Famalicão e ao sr. dr. Bernardino Machado. O ilustre democrata agradeceu num belo discurso, as saudações que lhe foram feitas, brindando aos republicanos de Famalicão. Seguiram-se depois o sr. dr. Joaquim de Oliveira, que falou brilhantemente, e o sr. Vitorino Coimbra, que prendeu num interessante discurso, a atenção dos convivas.
Depois, trocaram-se ainda muitas saudações e o banquete terminou às 10 horas e meia da noite, deixando a festa as melhores impressões em quantos a presenciaram.
A convite da comissão municipal republicana de Famalicão, foram assistir à conferência e tomar parte no banquete, redactores do «Norte», da «Pátria», do «Primeiro de Janeiro» e da «Verdade».




quinta-feira, 23 de maio de 2013

Administradores do Concelho - V. N. de Famalicão (1910-1926)



Exceptuando Sousa Fernandes, Álvaro Sampaio e Alfredo Costa, alguém quer facultar alguma fotografia dos administradores do concelho de V. N. de Famalicão entre 1910 e a 1926? Ficaría grato e os respectivos agradecimentos serão colocados no seu devido lugar. Brevemente sairá o "Roteiro Republicano de V. N. de Famalicão".
(1910-1911) – Sousa Fernandes
(1911-1915) – António Rocha Carvalho
(1915) – Fernando de Albuquerque Dias
(1915) – António de Araújo Costa
(1915-1917) – Carlos Bacelar
(1917-1918) – João Baptista Pinto
(1919) – Álvaro Mendes Corte-Real
(1919) – Joaquim Dias de Sá
(1919) – Álvaro Sampaio
(1919) – Tavares da Fonseca
(1919-1920) – António de Araújo Costa
(1920-1921) – Avelino Carvalho
(1921) – Alfredo Costa
(1921) – Joaquim dias de Sá
(1921) – Manuel Barbosa
(1922) – Fernando Ferreira de Azevedo e Cunha
(1923) – Alfredo Costa
(1923) – Joaquim Dias de Sá
(1924) – Guilherme Costa e Sá
(1924) – José Lopes Martins[1]
(1925) – Adolfo Cândido de Macedo Vieira de Castro e Costa
(1925-1926) – Diogo Osório da Cunha Sá Mesquita
(1926) – Romeu Óscar de Barros Carmona



[1] O ministério de Alfredo Rodrigues Gaspar (6 de Julho de 1924 a 22 de Novembro de 1924) faz a nomeação para Delegado do Governo de V. N. de Famalicão José Lopes Martins, que não chegou a tomar posse.
“Administrador do Concelho”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 29, n.º 1518 (30 Nov. 1924), p. 1.
“Nas vésperas da demissão do Governo, foi nomeado administrador do concelho o sr. dr. José Lopes Martins, que não chegou a tomar posse. Este ou outro, é conveniente que esse lugar seja preenchido sem demora, para prestígio de uma repartição por onde ocorrem muitos serviços de responsabilidade.”

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O "Boletim Cultural" de V. N. de Famalicão


Foi apresentado recentemente o "Boletim Cultural" do município de V. N. de Famalicão, n.º 6/7, da 3.ª série, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, no dia 18 de Maio, pelas 21h30, actividade inserida no âmbito do centenário da mesma instituição famalicense. Com a presença do Vereador da Cultura e Vice-Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, Paulo Cunha, afirmando a continuidade do "Boletim Cultural", diga-se, que é um dos mais antigos das autarquias portuguesas pós-25 de Abril, este número duplo (2010/2011) contém, uma vez mais, estudos sobre a comunidade famalicense na sua dimensão cultural heterogénea, entre a dimensão local, regional e nacional, numa série de estudos agora compilados para deleite do leitor. Desta forma, temos, especificamente, seis capítulos (encontrando-se um, o último, orientado para a informação cultural do município), a saber, i) História Local (numa homenagem à primeira vereação republicana), ii) Seminário; Monumentos Balneários do Noroeste Peninsular - da Proto-História à Idade Média, iii) Seminário: Os Novos Caminhos da História Local e Regional - 30 Anos do Boletim Cultural, iv) Seminário: Rede de Museus. Território. Identidade. Património, v) Museu Bernardino Machado - centenário da I República e, finalmente, vi) Património Cultural. Coordenado por Artur Sá da Costa, só nos resta, enquanto leitores, esperar por mais um.

António Sérgio Pedagogo

No próximo dia 24 de Maio, pelas 21h30, vai decorrer no Museu Bernardino Machado, em V. N. de Famalicão, mais uma sessão do “Ciclo de Conferências” de 2013, dedicado à temática “Pedagogos e Pedagogia em Portugal”. A entrada é livre e com a entrega de certificado de presença, estas conferências aguardam a acreditação pelo Centro de Formação Científica para os professores da disciplina de História, Filosofia e Sociologia. O conferencista convidado é o Prof. Sérgio Carneiro de Campos Matos, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1980), tirou o Mestrado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1988 e realizou o Doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa (1995), à qual se encontra agregado desde 2005. Tem-se dedicado à história cultural e política com destaque para os estudos da historiografia e das memórias sociais, os nacionalismos, as identidades nacionais, os iberismos e as relações entre Portugal e Espanha. Neste âmbito, publicou títulos como “História, Mitologia, Imaginário Social” (1998), “Consciência Histórica e Nacionalismo” (2008), “Correspondência Política de Manuel de Arriaga” (2004) e “Historia de la Civilizacion Ibérica” (2009). Tem participado em congressos (em Portugal e no estrangeiro) e tem, igualmente, participação em obras colectivas nacionais e internacionais.

Bernardino Machado, 1910-1914

 A exposição "Bernardino Machado e a I República" foi resposta no Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio

BERNARDINO MACHADO
(1910-1914)
MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS, SENADOR E EMBAIXADOR

“A República é uma verdadeira religião que une as almas pelo amor e pela fraternidade.”

Bernardino Machado

 RESUMO

Este volume evidencia Bernardino Machado no seu papel como Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório, ajudando a construir a imagem de Portugal no estrangeiro através da imprensa e temos temas como o da Constituição, do Código Administrativo, a sua opção pela descentralização ou a problemática do sistema presidencial. Num segundo plano, o papel de Bernardino Machado no Senado é a defesa da obra do Governo Provisório e a projecção da unidade republicana. Finalmente, temos o papel de Bernardino Machado como embaixador de Portugal no Brasil, realçando-se o seu papel na republicanização das colónias, as trocas comerciais e uma especial atenção à emigração.



 O Prof. Jorge Alves com o Dr. Manuel Sá Marques, neto de Bernardino Machado

Conferência do Prof. Jorge Alves, da Universidade do Porto

Fico gratificado por vir a V. N. de Famalicão e salientar que o Museu Bernardino Machado é um Museu especial, pela sua actividade cultural e cívica, e tem um patrono específico, não conhecendo nenhum outro Museu que dedique tanto trabalho ao seu patrono, como é o caso deste Museu, o qual é hoje a nível nacional uma referência de republicanismo, transcendendo já há muito o âmbito municipal, já que é uma instituição nacional com impacto nacional.
Sinto-me ainda gratificado porque Bernardino Machado é uma figura de referência do meu círculo de sociabilidade. Nasci e vivi a quinhentos metros do velho palacete de Miguel Dantas e para quem vive numa aldeia do Alto-Minho, que tem um palacete brasileiro com aquela pujança urbanística, e depois os mais velhos sempre a falarem do que então ali se passava em termos políticos (não esqueço que na freguesia de Formariz, onde está o Palacete, por exemplo, no tempo das eleições de Humberto Delgado, este aqui teve a maioria, caso único no Alto-Minho!), teve uma actividade política com Miguel Dantas, que era regenerador, e depois com Bernardino Machado. A minha família, a nível dos ascendentes, teve uma ligação a Bernardino Machado e a Elzira Dantas, caso do meu bisavô, Tomás Alves, o Tomazinho, que aparece frequentemente nas fotografias, e foi o responsável pela Fábrica de Laticínios de Mantelães, e o irmão dele, o Narciso Alves da Cunha, que foi deputado à Constituinte em 1911, evidentemente que sendo ele um político regenerador, e com as dissidências, alinhou pelo republicanismo, como sendo um dos três clérigos eleitos pelo Alto-Minho, necessariamente pela influência de Bernardino Machado, que, como diz neste livro, preferia adesivos de boa consciência a históricos de má índole.




 Dr. Artur Sá da Costa, coordenador da rede museológia municipal, com o dr. Manuel Sá Marques

Já não sou do tempo de Bernardino Machado, mas sou do tempo do filho, Inácio Machado, onde durante dois ou três anos, nas tardes entre 1968 e 1969, falávamos de política, numa altura em que falar de política era complicado; e até me sinto endividado, na medida em que, para além de ter trabalhado no livro do meu tio, Narciso Alves da Cunha, nunca dediquei propriamente um trabalho a Bernardino Machado, excepto uma vez em que numa pequena referência, no livro dos brasileiros, falo do Palacete de Mantelães. Aliás, no tempo da resistência, o Palacete de Mantelães foi um espaço de acolhimento de resistentes. Finalmente, numa terceira anotação inicial, o Museu e os seus responsáveis podem-se sentir orgulhosos por terem uma colecção de obras do patrono, nos quais está patente uma nova perspectiva de escrever a história de Portugal, sob o ponto de vista de Bernardino Machado, as suas posições, os seus confrontos, os seus combates, e atendendo à longevidade da sua actividade política, foge aos padrões habituais, cingindo-se aos valores da República, princípios doutrinais, trazendo esses valores à prática, sendo isto o que se pode retirar desta obra, havendo uma passagem de propaganda à afirmação política e ideológica do tempo da oposição para um tempo de realização, de concretização e de consolidação.
A instauração da República pode ser lida numa perspectiva de evolução, isto é, ver a revolução na evolução. Este volume diz respeito, essencialmente, ao período de 1910 a 1913, vai um pouco a 1914, e é o período da instauração da República, no Bernardino Machado exerce as suas funções de Ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo Provisório, passando depois para o Parlamento e desenvolve aqui um papel, por um lado, na defesa da obra do Governo provisório, e, por outro lado, de contestação em relação aos governos ditos constitucionais, a começar pelo de João Chagas, mas que representavam uma facção política, havendo aqui o papel de divisão dentro daquilo a que foi o Partido Republicano Português e, podemos dizer, começou a fase da divisão dos republicanos e, portanto, do fim da República; e, se alguém chamou a atenção para esse perigo foi desde o início Bernardino Machado, quando apelava à união e à unidade, no sentido da consolidação da República. Só quando a República estivesse consolidada, aí sim, deveriam aparece as divergências e as organizações políticas. Estas linhas essenciais são evidenciadas na introdução, dando-nos a compreensão e a expressão dos vários grupos que se iam afirmando, nomeadamente a luta entre o Directório e o Governo Provisório, situação esta difícil de entender, mas que é verdadeira.




 Dr. Manuel Sá Marques com o editor das "Obras" de Bernardino Machado, das Edições Húmus, o Sr. Rui Magalhães

O papel de Bernardino Machado com o Governo Provisório foi o de ajudar a construir a imagem de Portugal no exterior, enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros e faz esse papel de forma sistemática, preocupando-se nomeadamente com as mensagens que é necessário enviar para o exterior em termos de imprensa, nomeadamente com as suas célebres conferências de imprensa com os jornalistas estrangeiros, para além da actividade normal, naquilo que é o expediente do Ministério.
Não me tinha apercebido, até hoje, de algumas das intervenções de Bernardino Machado que servem, às vezes para prorrogar as linhas de orientação, mostrando algumas opções, por exemplo, ao nível da Constituição, ao nível do Código Administrativo, a sua opção pela descentralização, isto é, no longo percurso deste tempo Bernardino Machado vai colocar uma espécie de consciência relativamente ao programa histórico do Partido Republicano Português, programa um pouco da consequência do Ultimatum, tendo sido aprovado no congresso do ano seguinte, tendo sido o mote a toda a propaganda republicana, constituindo, por isso mesmo, o compromisso que o partido assumia com a Nação e que uma vez assim instaurado, nem sempre os republicanos estiveram em condições de o aplicar, porque alguns eram novos, já não tinham o compromisso com o programa de vinte anos atrás, outros porque não tinham essa preocupação e outros porque as divergências os levavam a combater, porque eram só do contra. Essas posições são bem salientadas, a displicência de Bernardino Machado relativamente ao poder presidencial, ele que foi Presidente da República, e a afirmar sempre a sua preferência pela formação parlamentar, face às posições presidencialistas de alguns. Essa é uma posição histórica, que vinha desde os inícios do liberalismo e que tem muito a ver com as bases liberais que se fizeram face ao poder absoluto e, portanto, quando se admitia o Rei, como diria Passos Manuel, é preciso rodeá-lo de instituições republicanas e não era agora que a República, que sempre defendera uma posição da herança setembrista e da patuleia, iria mudar de opinião e daí a valorização do poder parlamentar que, de certo modo, se revelou um bocadinho fatal no processos de instauração da República, uma vez que, exactamente, o predomínio parlamentar e a negação do poder presidencial acabaram por criar alguns problemas, daí várias situações, o exercício quase absoluto do Parlamento, fazendo tremer os governos, quer por parte de alguns presidentes, que tentaram ganhar mais poder, e, como diria o próprio Bernardino Machado, isso iria criar um conflito, e daí querer o Presidente da República eleito pelo Congresso e não pelo voto popular, pelo sufrágio universal. É, aliás, uma questão que está totalmente na ordem do dia, ainda hoje, já que é uma marca com Sidónio, com o Estado Novo, o próprio Estado Novo não teve uma linha única, optou pelas duas, primeiro por uma versão de sufrágio e com Humberto Delgado pela versão do Congresso. É uma questão que vale a pena estudá-la e Bernardino Machado deu um contributo interessante para esta altura, sobretudo para nós percebermos como é que foram as opções da República nesta altura. Essas posições continuou Bernardino Machado a defendê-las e a combater pelos valores do velho manifesto para com os primeiros governos de extracção parlamentar, recusando sempre a velha acusação da ditadura que se atribua ao Governo Provisório e valorizando a sua actividade. Hoje, fazendo um balanço histórico da República, nós sabemos que a República foi essencialmente no período do Governo Provisório. As grandes acções, o processo de laicização, a separação, a afirmação dos valores do ensino, tudo isso decorreu essencialmente no Governo Provisório que, não se enredando na discussão parlamentar, pode avançar com algumas propostas, ficando com outras na gaveta, como foi com o caso do Código Administrativo. Não quero reduzir o papel dos republicanos ao Governo Provisório, que tem naturalmente os seus defeitos, nomeadamente o facto de não haver um Governo, mas ministérios, nos quais o ministro tinha uma autonomia muito grande, mas a verdade é que não nos podemos esquecer da obra de um Afonso Costa, ou até de António José de Almeida, por exemplo, no domínio do ensino superior.


 O Prof. Norberto Cunha (no lado direito), coordenador científico do Museu Bernardino Machado e das "Obras", na apresentação do Prof. Jorge Alves

Este livro ajuda-nos ainda a perceber um dos problemas que mais aborreceram Bernardino Machado, como é o caso de Batalha Reis, que está bastante documentado, Batalha Reis, um intelectual e um político que ele chamou para o seu gabinete, polémica com o sentido de desprestigiar o próprio Bernardino Machado, do qual iria sair ilibado. Uma outra linha são os congressos do Partido Republicano e o papel de esforço para a construção da unidade que Bernardino Machado desenvolveu, tentando chamar sempre à comunhão política, os grupos que começavam a aparecer. No fundo, o que ele queria era uma República como um regime de pacificação da sociedade portuguesa, de conciliação das classes, de ajustamento do poder político à evolução da sociedade, situação que a Monarquia não teria permitido. São estas as mensagens que Bernardino Machado faz eco em termos de síntese, quando vai para o Brasil como embaixador e, essencialmente no Brasil, procura também criar uma imagem positiva da República em Portugal e, sobretudo, unir a colónia portuguesa então bastante desavinda pela irrupção da divergência política que já vinha de trás, uma vez que muitos dos nossos republicanos têm origem brasileira, há conexões profundas, basta dizer que o próprio Bernardino Machado nasceu no Brasil, mas também nasceram lá Miguel Bombarda, Magalhães Lima, João Chagas, entre outros, e vê-se que o Brasil foi um espaço de recepção e de produção e de reprodução do nosso republicanismo, havendo aqui neste domínio muito ainda a fazer.


O Prof. Jorge Alves, num momento da sua conferência

Seguindo uma linha cronológica, facilitando o entendimento, os textos de 1910 mostram-nos o entusiasmo de Bernardino Machado com a Revolução, na fase inicial os textos mostram precisamente algum êxtase pela Revolução, a qual traz uma regeneração para a sociedade portuguesa, traz-nos a independência, a coesão, a fraternidade, a emancipação, mas, ao mesmo tempo, a preocupação com a ordem, com os serviços públicos e a necessidade de desenvolver uma obra de construção que pudesse libertar o trabalhador, que desse direitos de associação e de reunião, para Portugal ultrapassar o estado triste em que se encontrava. Nas palavras de Bernardino Machado, era a revolução pela lei que o Governo Provisório estava a fazer; ou então, ainda nas suas palavras, “já não há agora delitos de opinião, a opinião é livre dentro da República”, lembrando-se das leis da rolha com que se teve de defrontar no período pré-República.
Os encontros com a imprensa estrangeira não só permitiram a promoção da imagem de Portugal no estrangeiro, como igualmente relativizar o papel dos monárquicos nas suas movimentações trans-fronteiriças, justificar as obras do Governo Provisório, desenvolver uma linha parlamentar para a constituição, o que é que deveria ser e fazer-se e na defesa das eleições de 1911, pelo facto dos monárquicos não terem comparecido às urnas e, portanto, ter havido uma desvalorização das mesmas.
É particularmente importante o relatório aqui transcrito e apresentado à Assembleia Nacional Constituinte; e depois desse trabalho parlamentar, vai ocupar o lugar no Senado e defendendo, por um lado, o papel da unidade republicana, por outro lado, da consolidação da República, mas não deixando de ser um crítico do trabalho que se ia fazendo pelo governo do chamado “bloco” (evolucionistas, unionistas e independentes) em oposição aos democratas, em que desenvolvia uma obra sistemática de desconstrução da obra do Governo Provisório e a tentativa de esvaziar toda a obra de Bernardino Machado, tentando Afonso Costa em 1913 de recuperar, mas já sem o mesmo efeito.
Uma outra situação que temos com este volume é a visão que Bernardino Machado tem da República como religião, mais como uma mística, e que, ao mesmo tempo, servia para mostrar que as religiões podiam existir, não podiam era estar acima da Nação e da Pátria. Eram afirmações que Bernardino Machado tinha de fazer para defender a República das críticas à Lei da Separação, na medida em que há um combate ao clericalismo, não ao clero, dirá Bernardino Machado, ou seja, nada havia contra os padres, havia era contra um sistema que era algo totalitário que envolveu demasiado a sociedade portuguesa.
Para além do caso de Batalha Reis, encontrámos neste volume a ideia da republicanização das colónias, apela à reforma administrativa, no sentido descentralizador para travar o caciquismo, a defesa da agricultura, nomeadamente o apoio às escolas móveis, defendo sempre que a República deve ser do povo e fiscalizada por ele.
Finalmente, o livro tem uma série de textos de Bernardino Machado no Brasil, já como representante diplomático, que são absolutamente interessantes, havendo já uma preocupação com o Brasil, com a sensibilidade às colónias, para com as trocas comerciais, as relações políticas entre os dois países, fechando com particular atenção à emigração.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Bernardino Machado - "Obras: Política-III"


Numa organização da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão e em colaboração com o Museu Bernardino Machado, assim como com as Edições Húmus, a apresentação do III Tomo da Obra Política de Bernardino Machado realiza-se no próximo dia 18 de Maio (Dia e Noite Internacional dos Museus), pelas 17h00, a cargo de Jorge Fernandes Alves, no referido Museu, em V. N. de Famalicão. A entrada é livre.
O período que abrange o referido Tomo (1910-1914) corresponde a três momentos distintos do percurso político de Bernardino Machado: a) a sua acção ministerial no Governo Provisório como Ministro dos Negócios Estrangeiros e a sua participação nas constituintes; b) da sua malograda candidatura à presidência da República, passando pela sua acção como senador da República (em meados de 1912) e, finalmente, c) a sua estadia oficial no Brasil, como Ministro e Embaixador de Portugal (já que foi Bernardino Machado que fundou e inaugurou a respectiva embaixada), até ao seu regresso a Portugal no início de 1914.
O primeiro destes períodos é de grande euforia, correspondendo à realização do programa do Governo Provisório, no qual se empenha entusiasticamente, convicto de que as medidas a ser implantadas não só correspondem às promessas do Partido Republicano Português na oposição, como se identificam com a opinião pública e as aspirações populares; o 2.º período é o da sua deliberada marginalização política pelo “Bloco” do poder, que procuram desacreditá-lo, moralmente, enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros (através do caso “Batalha Reis”), mas também minimizar a sua acção no tempo da propaganda republicana, corresponde o 3.º período à sua estadia oficial no Brasil, cujo regresso a Portugal acabará por traduzir numa vitória triunfal sobre os seus inimigos, ao ser convidado, por Manuel de Arriaga, para formar governo.
Com introdução e e notas de Norberto Ferreira da Cunha, o III Tomo da Obra Política de Bernardino Machado é constituído por textos retirados da imprensa portuguesa e brasileira, incluindo apenas uma brochura, o relatório que Bernardino Machado apresentou à Assembleia Nacional Constituinte em 1911, enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros. Da imprensa portuguesa, destaca-se “O Mundo”, ao lado de periódicos como “O Século”, “A Pátria”, o “Diário da Assembleia Nacional Constituinte” e do “Diário do Senado”, enquanto da imprensa brasileira (fazendo parte do acervo documental do arquivo de imprensa do Museu), temos textos retirados de títulos como “Portugal Moderno”, “O País”, “A Noite”, a “Gazeta da Tarde”, a “Folha do Dia”, do “Jornal do Comércio” e do “Correio da Noite”.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Edição Municipal em Debate na Póvoa de Varzim

 
O caríssimo Amigo Dr. Manuel Costa, Director da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, teve a amabilidade de me enviar estas fotografias do Colóquio "Edição Municipal: percursos e desafios" e um texto de reflexão do que então se passou na referida instituição. Fica aqui o registo.
 
 

João Torrão e Luís Diamantino



A Biblioteca Municipal Rocha Peixoto acolheu, ontem à tarde (dia 7 de Maio, iniciando-se os trabalhos às 14h30), o Colóquio Edição Municipal: percursos e desafios. Na Sessão de abertura, Luís Diamantino, Vereador da Cultura do Município poveiro, reconheceu que as autarquias foram uma grande alavanca em relação ao percurso editorial. “As Câmaras Municipais têm assumido um corpo editorial muito alargado que não se confina à temática territorial mas é muito mais abrangente”, constatou o autarca. O Vereador assumiu que “temos que ser muito seletivos naquilo que apoiamos, não do ponto de vista político mas técnico”. Neste sentido, referiu que “a partir de determinada altura entendemos que era necessário criar uma linha gráfica e assim nasceu a marca “Biblioteca Poveira – Na linha do horizonte”. Neste momento, qualquer um consegue identificar a nossa coleção”, reconheceu. Para Luís Diamantino, o município tem um importante papel na memória coletiva e compreensão da comunidade. João Torrão, Diretor do Mestrado em Estudos Editoriais da Universidade de Aveiro, referiu-se à parceria com o município poveiro na organização deste colóquio com o objetivo de promover a partilha de experiências relevantes e suscitar uma reflexão profícua entre profissionais, decisores e investigadores de diversas áreas, interessados em debater esta vertente das políticas culturais municipais.

 
Da esq. para a dir.: Margarida Moleiro, Alexandra Isidro, Henrique Barreto Nunes, Artur Sá da Costa e Manuel Costa.


O colóquio dividiu-se em dois painéis, sendo que o primeiro, intitulado Edição Municipal e Cultura Local e moderado por Henrique Barreto Nunes (Universidade do Minho), reuniu vários profissionais da edição local convidados que se referiram ao percurso da atividade editorial de diversos municípios. Deste modo foi possível constatar o trabalho desenvolvido em Vila Nova de Famalicão, Mafra, Guarda, Torres Novas e na Póvoa de Varzim no campo editorial. Desafios da Edição Municipal na atualidade deu mote ao segundo painel, moderado por Teresa Cortez (Universidade de Aveiro), e que contou com a presença de decisores de alguns municípios com uma significativa atividade editorial. Luís Diamantino (Vereador da Cultura da Póvoa de Varzim), Fernando Rocha (Vereador da Cultura de Matosinhos), Alexandra Isidro (Município da Guarda) e David Vieira (Município de Óbidos) refletiram sobre o futuro da edição municipal, tendo presente o contexto atual, marcado simultaneamente por constrangimentos orçamentais e pelo aumento da informação em formato digital.

 
Da esq. para a dir.: David Vieira, Alexandra Isidro, Teresa Cortez, Fernando Rocha e Luís Diamantino

Dia e Noite Internacional dos Museus - Museu Bernardino Machado


O Dia e a Noite Internacional dos Museus, que este ano coincide com o 18 de Maio, tem como tema geral: “Memória+Criatividade=Mudança Social”. Em V. N. de Famalicão, a Rede Museológica Municipal irá comemorar no dia 18 de Maio o Dia Internacional dos Museus e a 19 de Maio a Noite Internacional dos Museus com várias actividades.
No Museu Bernardino Machado, o Dia Internacional dos Museus será evocado com a apresentação pública do 3.º Tomo do 3.º Volume das “Obras” de Bernardino Machado, coordenadas por Norberto Ferreira da Cunha (coordenador científico do respectivo Museu). A apresentação encontra-se a cargo de Jorge Fernandes Alves, Professor Catedrático do Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, docente na área de História Contemporânea. Os seus trabalhos de investigação têm abordado temas como as migrações, as empresas e os empresários, a indústria, as questões portuárias, educação, política, debruçando-se igualmente sobre alguns autores, como é o caso de Rodrigues de Freitas. Muitos dos seus trabalhos encontram-se publicados em revistas da especialidade, tais como, entre outros títulos, “Revista de História”, “Revista da Faculdade e Letras”, “Análise Social”, “História das Ideias”, “Revista Portuguesa de História, o mesmo acontecendo em publicações dos Estados Unidos, no Brasil, na Espanha ou na Itália.



Com uma tese de Mestrado com o título “Uma Comunidade Rural do Vale do Ave – S. Tiago de Bougado (1650-1849)”, publicou (tendo colaborado em obras colectivas, como tem sido editor e organizador de outras), “Os Brasileiros – Emigração e Retorno no Porto Oitocentista” (1994), “José Vitorino Damásio e a Telegrafia Eléctrica em Portugal” (1995), “O Furacão Delgado” (1998), “Indústria da Pasta de Papel em Portugal – o grupo Portucel” (2001), “Os Transportes Colectivos do Porto” (2001), “A Universidade da República, a República na Universidade (2012), entre outros.
Com V. N. de Famalicão, não e a primeira vez que Jorge Alves colabora com o Museu Bernardino Machado. Para além de se encontrar na génese dos “Encontros de Outono”, Jorge Alves organizou em 1998 o colóquio “Os Brasileiros da Emigração” e participaria nos de 2010 e de 2011. Para além desta colaboração com o Museu Bernardino Machado, já colaborou com o Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave, publicando “Fiar e Tecer – uma perspectiva histórica da indústria têxtil a partir do Vale do Ave” (1999) e “Riba d`Ave na Memória da Indústria Algodoeira”, publicando em 2002 “Riopele: história de uma referência têxtil”.
A apresentação do 3.º Tomo do III Volume das “Obras” de Bernardino Machado terá início às 17h00 e a entrada é livre.






A Noite Internacional dos Museus irá acontecer no Museu Bernardino Machado no dia 19 de Maio com a actividade “Há Fado no Museu”, com início às 22h00 e a entrada é livre.
Terá a presença de fadistas como Joaquim Macedo (tem participado em espectáculos em vários países do estrangeiros, especialmente nas comunidades portuguesas, e em Portugal e já publicou “os álbuns “Tudo Isto É Fado” e “Cumplicidades”, preparando o terceiro para comemorar os seus 45 anos de actividade), Maria do Sameiro (para além da sua participação em festas de homenagem dedicadas a Carlos do Carmo, Amália e Cidália Moreira, esteve presente no elenco “Amália”, de Filipe La Féria, já publicou 8 álbuns e tem marcado a sua presença em vários países europeus e no Brasil, assim como tem estado presente em vários programas de Televisão), Lurdes Silva (canta no restaurante da Quinta da Cordiceira e considera o fado como “Prece, Pranto ou Pregão”), Sara Silva (ao lado da irmã, Lurdes Silva, anima as Noites de Fado no referido restaurante) e Zé Manel Fadista (tem actuado em Portugal e em vários países estrangeiros e no Brasil). Estes fadistas terão a acompanhá-los os músicos André Teixeira (viola), Filipe Teixeira (contrabaixo) e Miguel Amaral (guitarra).