domingo, 27 de maio de 2012

maçonaria oitocentista em portugal



O convidado de mais uma conferência do Ciclo dedicado à Maçonaria, António Lopes, enalteceu a atitude cívica destes encontros, congratulando-se pela sua presença no Museu Bernardino Machado. Para António Lopes, não há perguntas muito difíceis para a Maçonaria, podendo haver uma ou outra. Pretendendo transmitir sobre “o que é isto, a Maçonaria”, inicia por clarificar o auditório que a Maçonaria é um grupo de pessoas, homens e mulheres, uma organização masculina e feminina, para se discutir e se falar de tudo. Tem como fim o combater preconceitos para sermos verdadeiramente livre-pensadores. A Maçonaria, que nasce no século XIX, é fruto de uma mudança política, cultural e social da Europa, sendo a causa e a consequência dessa mudança, indo buscar as lendas e os símbolos para os seus rituais à cultura. E se nasce em Inglaterra em 1717, na Maçonaria tudo se pode discutir, menos religião e política. Sempre que meteu a política e a religião, a Maçonaria sempre se deu mal.
António Lopes e Norberto Cunha
Com uma organização rudimentar na sua fase inicial em Portugal (conhecendo-se, apenas, duas lojas, A Casa Real dos Lusitanos e os Hereges Mercadores), as reuniões maçónicas iniciais realizavam-se em casas de particulares, o que tem uma consequência, o facto de serem itinerantes (constituindo, hoje, uma falha na documentação histórica); existia, igualmente, uma conflitualidade nas lojas maçónicas, sobre as questões de ordem ritual e, acima de tudo, a falta de uma estrutura central, apesar da existência de um Corpo Maçónico, que reunia a direcção das lojas então existentes em Portugal e as defendiam dos ataques por parte da Inquisição.Com a criação do Grande Oriente Lusitano (1802), no qual existia tanto o rito francês, como o inglês, existindo uma Maçonaria portuguesa até às invasões francesas e uma outra após as mesmas. Para além disto, na estruturação da Maçonaria no início do século XIX surge um conjunto de repressões perante a mesma instituição.
Não havendo documentos suficientes que comprovem a implicação da Maçonaria perante a Revolução Liberal de 1820, e nas relações do Sinédrio com a Maçonaria, surgindo, ao mesmo tempo, em Portugal a Carbonária, de tendências francesas, surgiram vários problemas de ordem social e cultural, e mesmo de mentalidade, perante a Constituição de 1822, nomeadamente a posição do Cardeal Patriarca de então, para o qual não se podia reconhecer a igualdade entre os homens, com o argumento de que se a mão tem cinco dedos todos eles diferentes, logo os homens não podem ser todos iguais. O que surgiu com a respectiva Constituição de 1822, foram algumas reacções, nomeadamente, por exemplo, a de Francisco Faria e Maia, para o qual os intelectuais aliaram-se da realidade, esquecendo a educação para o povo para a mudança da sociedade. Alias, para o Prof. António Lopes, Portugal andou sempre ao sabor dos ventos do liberalismo europeu, tendo sido um dos seus combatentes, de tal realidade, o P. José Agostinho de Macedo, surgindo com o miguelismo duas correntes: o liberalismo e o absolutismo.


António Lopes, num dos momentos da sua conferência
Do Brasil, após a vinda da corte, a Maçonaria adoptou o rito escocês, enquanto que da França e da Inglaterra surgiram novas ideias, vindo, particularmente de França, a Carbonária, conforme já se disse. Para o Prof. António Lopes, há várias carbonárias consoante as épocas. Em 1834 há um novo crescendo da Maçonaria, surgindo, ao mesmo tempo, cisões e divisões internas, devido, precisamente, às várias obediências então existentes, e mesmo perante o sistema político (existindo então as sociedades patrióticas, daqui nascendo os partidos políticos), que se começa a organizar em Portugal por meados do século XIX, com a Regeneração, estando em campo cabralistas e setembristas.
Uma das diferenças da Maçonaria da de hoje perante a emergente em meados do século XIX, está na força, na beleza e na sabedoria com aquilo que se discutia e se falava nas reuniões maçónicas. A Maçonaria, então, aproxima-se dos grémios e das associações culturais e cívicas de oitocentos, tendo como obrigação social ensinar a ler e a escrever. Será, essencialmente, a partir dos anos 70 que a Maçonaria se aproxima do movimento republicano, juntando então monárquicos e republicanos, ambos estando presentes nas respectivas associações e nos respectivos grémios. O que une, segundo António Lopes, esta geração é o altruísmo político em todos os quadrantes para o bem comum, estando em causa a participação cívica, ficando assim a pessoa mais completa.

Um aspecto do auditório

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