segunda-feira, 30 de abril de 2012

o mundo fantástico de antónio santos graça



"Na história local, a trajectória de Santos Graça é a de um voluntarismo musculado que atingiu a meta, desde muito novo sagazmente construída. Nascido num modesto clã de pescadores-banheiros, que na altura definiam a dupla actividade sócio-económica da praia da Póvoa, se não foi o mar o seu destino de filho de família da classe piscatória, nunca a defesa profiada de suas causas deixou de ser o objectivo cimeiro do seu combate político. A míngua de oportunidades e recursos, para receber uma escolaridade perfeitamente ao alcance do seu inato talento, não o impediu de obter a pulso, pela via árdua do autodidactismo, a literacia surpreendente que á sagacidade veio mostrar possuir: o convívio social, ligado à profissão de lojista; a prática de desportos náuticos: o associativismo; a lide político-partidária republicana; o contacto com intelectuais como Rocha Peixoto e Leonardo Coimbra; o jornalismo, qual tarimba de toda a hora, doutrinário e polémico; a experiência parlamentar; o apego identitário à idiossincracia do pescador poveiro cujos genes recebeu e assumia - tudo isso acabou por ser fonte onde bebeu e caldeou a sua formação, de que a gama vária de seus escritor é eloquente testemunho."

João Francisco Marques


 
O meu caro Amigo Manuel Costa, Director da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto (que segue bem as pisadas do mestre que cheguei igualmente a conhecer, ficando por ele igualmente fascinado, claro que se fala aqui de Manuel Lopes, apesar do meu contacto inicial não ter sido dos melhores), ofereceu-me recentemente não só o catálogo da exposição "António Santos Graça - Vida e Obra", comemorando-se, assim, os 130 anos do nascimento da ilustre figura poveira, como igualmente tive o privilégio da oferta "À Descoberta de António dos Santos Graça", este de cariz didáctico-pedagógico, ambos organizados e editados por si. A Biblioteca Municipal Rocha Peixoto continua, deste modo, a comemorar os seus vinte anos de existência que dignifica a comunidade a que pertence.


A exposição, assim como o próprio catálogo, que ainda se encontra patente ao público até 31 de Maio do corrente ano, encontra-se dividida em oito temáticas, a saber: i, Infância e Juventude; ii, A Família; iii, A Obra; iv, O Quotidiano; v, O Etnógrafo; vi, O Político, vii, O Jornalista; viii, Cronologia (1882-1956). Uma exposição que retrata bem a citação do texto que transcrevemos de João Francisco Marques, que prefacia o catálogo. Para além de profusamente ilustrado, o catálogo contém textos não só do homenageado, como igualmente de João Francisco Marques, Manuel Lopes, Flávio Gonçalves, Ernesto Veiga Oliveira, António Medeiros, Armando Marques ou de Victor de Sá para uma compreensão maior da importância de António santos Graça nas suas múltiplas actividades, cívicas, culturais e políticas. Paralelamente, surge-nos no catálogo uma "História dos Documentos", a qual nos vai informando das suas tipologias documentais, passando pelo tratamento técnico. E o escrevinhador destas linhas pede apenas desculpa a Manuel Costa pela digitalização da imagem da República, diga-se, até por sinal, uma República bem simpática e sugestiva, encantando mais gente cá por Vila Nova, pelo Museu Bernardino Machado. Aliás, o nosso Bernardino Machado também estaria e ficaria encantado com aquela imagem da República, de linhas estéticas simples e de sensualidade admiratitativa (os olhos não enganam), quase como que questionando o mundo que olha. Para além disto, também se gostou da sigla da família, o que nos colocou a pensar qual será a nossa. Falo, é claro, do livro didáctico-pedagógico "À Descoberta de António dos Santos Graça", que já deve ter encantado quer miúdos e graúdos, pela documentação e pelas curiosidade que incorpora. Apenas um grande abraço de amizade fraterna para o meu caro Amigo Manuel Costa e o meu agradecimento por estas duas ofertas.



domingo, 29 de abril de 2012

bourbon e menezes e bernardino machado

na passagem de mais um aniversário do falecimento de bernardino machado, este texto de bourbon e menezes publicado no jornal de "notícias de huíla", em 26 de junho de 1944. para o dr. manuel sá marques, com o meu abraço afectuoso de amizade fraterna.



sexta-feira, 27 de abril de 2012

d. manuel clemente e bernardino machado - breves reflexões

para o dr. manuel sá marques, com o meu abraço de amizade fraterna e saudoso




Saiu este ano o livro de D. Manuel Clemente com o título "Igreja e Sociedade Portuguesa: do Liberalismo à República", o qual tem sido um prazer de ler inquestionável, assim como o foi "Porquê e Para Quê? Pensar com esperança o Portugal de hoje" (lembrando-me, muitas vezes, do jesuíta Manuel Antunes). Rui Ramos, logo no início do seu texto, como uma espécie de introdução ao livro de D. Manuel Clemente, "O Liberalismo Português como Problema Religioso", salienta que "os estudos e intervenções reunidos neste volume abrem uma porta fascinante sobre a história contemporânea de Portugal. Não era uma porta fechada, mas era uma porta que precisava de ser aberta assim, com este saber e largueza de vistas." Nestes textos agora reunidos de D. Manuel Clemente, encontramos "a relação da Igreja com o Estado durante a época do Liberalismo, entre o princípio do século XIX e o princípio do século XX. Mas estão também incluídas aqui importantes e sugestivas investigações e reflexões sobre a vida paroquial em Lisboa no século XX, as esperanças e as angústias de Raul Brandão num «mundo anticristão», ou a «nova religião» desejada por alguns líderes da I República, como Bernardino Machado." Aliás, o texto que D. Manuel Clemente agora publica é a sua conferência realizada nos I Encontros de Outono organizados pelo Museu Bernardino Machado no já ido ano de 1998 então denominado "O Homem, O Cientista, o Político e o pedagogo". A fotografia que aqui publico é, precisamente, desses mesmos "Encontros de Outono". Contudo, as simpáticas reflexões de D. Manuel Clemente perante o pensamento "religioso" de Bernardino Machado, e outras, merecem uma especial atenção, uma atenção informativa e axiomática. Ora, em termos informativos, Bernardino Machado não foi "ministro regenerador entre 1882 e 1895", foi, isso sim, em 1893 no governo de Hintze Ribeiro; e, em 1914, não foi Ministro dos Negócios Estrangeiros: em 1914 foi Primeiro-Ministro, como o afirma de seguida D. manuel Clemente! Surge o primeiro problema reflexivo e de ordem axiomática, ao citar Elzira Machado Rosa, para a qual Bernardino Machado "transitou de um ideário pedagógico para um ideário político"! Respeitando esta opinião, tanto o ideário pedagógico e o ideário político não se encontram separados, antes pelo contrário: em Bernardino Machado o ideário pedagógico complementa-se no ideário político, porque o primeiro se desenvolve institucionalmente no segundo: disto tinha consciência Bernardino Machado. Mas o problema que surge antes deste, é quando D. Manuel Clemente, citando Oliveira Marques, pretende colocar Bernardino Machado na Geração de 70: um mito que Marques construiu: Machado é da geração de João Penha, Alberto Braga, entre tantos outros, e que ficariam amigos de Machado para além da Universidade. Finalmente, a terceira reflexão pessoal a acrescentar às reflexões pessoais de D. Manuel Clemente, que, numa primeira fase do pensamento de Bernardino Machado, o coloca ao lado do Cristianismo e do Catolicismo, e, num segundo momento do seu texto, nos evoca uma "religião totalmente humanizada" em Machado. Antes pelo contrário: se enquanto em 1914 a República com Bernardino Machado acaba por ter um papel mais moderado, apesar de alguns conflitos, como em Coimbra, podemos estabelecer, tal como o fez D. Manuel Clemente, duas perspectivas em Machado: em primeiro lugar, a ruptura, no caso do pedagogo e do cientista, e mesmo do maçónico, com a sociedade oitocentista: é o caso, em algumas situações, no texto das "Notas Dum Pai", no qual, em alguns momentos, surge-nos uma linguisticidade de espírito maçónico com o "olho" de Deus na transcendência terrena, finita, isto é, da transcendência teológica para a transcendência do mundo, de uma cosmologia teológica para uma antropologia - eis o novo paradigma para uma nova secularização do mundo. Acima de tudo, um humanismo imanente e sociabilizador para o progresso de uma cidadania mais plena. Deste modo, o que está em causa para os republicanos e para Bernardino Machado é o ideal roussouniano da «religião cívica». E, se de facto, os republicanos, e o próprio Bernardino Machado não colocavam em causa o próprio Cristianismo, é porque, como nos diz Machado, "nós somos tolerantes para todas as religiões, mas não consentimos que, em nome de Deus, ou de Cristo, venham atiçar ódios contra os que predicam um ideal de bondade e de amor aos seus concidadãos." A mudança de paradigma, de uma verdade teológica para uma verdade antropológica,  registo-a na seguinte citação das "Notas Dum Pai": "Todos os sistemas Morais se podem, logicamente e também cronologicamente, reduzir a duas categorias, conforme colocam o centro da vida fora ou dentro do universo. Os primeiros geram-se na meditação melancólica dos que descrêem do reinado da justiça sobre a terra e apelam para as perspectivas duma estância melhor, onde ela triunfe eternamente; mas, pregando o sacrifício de todos, a sua doutrina, para extirpar o mal, ameaça tudo destruir. Filha do amor, quantas veze sse converte em instrumento de ódio e cobre os campos de cadáveres e os corações de luto! Inspiradora não só do desprezo das grandezas terras e da própria mortificação, mas até do desapego do trabalho útil e das legítimas afeições, ela cria um egoísmo de beatificação, que, rompendo a solidariedade de cada homem com as outras criaturas, excita-o, numa febre niilista, a espalhar diante de si o extermínio, como que em busca, através das ruínas e da morte, das regiões gloriosas de além-túmulo. / Para outros, o reino do Senhor é o deste mundo. E, contanto que ninguém incorra, orgulhosamente, no erro antropocêntrico de supor que tudo conviria em seu proveiro, não há doutrina mais salutar. Melhorar o mundo, torná-lo cada vez mais habitável e habitado por almas livres, eis o verdadeiro ideal de paz e de amor. O fim do homem é a criação, não a mortificação." (itálico meu) O problema, é que a República criou, em alguns casos, as mesmas intolerâncias mortificantes que no Liberalismo e no seio do próprio Cristianismo inquisitorial e a pacificação, entre o público e o privado, nas mudanças de mentalidade, leva o seu preço temporal. E se os republicanos, tal como Bernardino Machado, acreditavam que a mudança mental e social passava pelas instituições, tal não sucedeu: o caso de Vila Nova de Famalicão, e provavelmente como um pouco por todo o País, foi sintomático: os adesivos é que tomaram conta das instituições de solidariedade social, cívica e cultural e entravam nas comissões municipais, nascendo, entretanto, uma nova geração que, tal como os adesivos, se iriam encontrar no Estado Novo. Agradeço a D. Manuel Clemente estas breves reflexões.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

tomás da fonseca, o republicano


Com textos retirados dos jornais "A Pátria", "O Mundo" ou "Alma Nacional", ou de livros como a "Cartilha Nova", o "Ensino Laico" ou o mais do que famoso "Sermões da Montanha", esta nova antologia de Tomás da Fonseca, organizada e prefaciada por Luís Filipe Torgal, o qual analisa o positivismo anticlerical e ateu, o republicano socialista e o educador popular que foi Tomás da Fonseca, permite ao leitor de hoje viver e sentir de uma forma ímpar os tempos conturbados em termos mentais, sociais e culturais da I República em Portugal.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

abril sempre

Abril de Abril

Era um Abril de amigo  Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo  Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça  Abril de massas
era um Abril na rua  Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava  Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril  Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se  Abril palavra
esse Abril em que  Abril se libertava.

Era um Abril de clava  Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

camilo no dia mundial do livro

e no dia mundial do livro, este simpático volumezinho de camilo castelo branco com o título encomiástico e saborosamente camiliano "vingança d`um rhinoceronte d`amor", publicado inicialmente em folhetim no jornal do porto "o portuense". republicado em 1990 pelas edições do tâmega, com uma espécie de introdução por antónio josé queirós e com um pósfácio de pedro alvellos, podemos dizer que a colaboração de camilo inicou-se logo nos primeiros números do jornal "o portuense", até à altura em que ingressou em "O Porto e a Carta". O que não deixa de ser curioso é que Camilo através de um dos seus pseudónimos de guerra, O Antigo Juíz das Almas de Campanhã assina um folhetim em que responde a uma crítica às "Folhas Caídas Apanhas na Lama", isto já em Janeiro de 1854. para além desta "vingança", destaca-se da colaboração de camilo em "o portuense" ainda "a caveira", incluída em "cenas contemporâneas" e "agonia de vinte dias", que com o título "vinte dias de agonia" irá aparecer depois em "um livro". e mais um apontamento para a faina jornalística de camilo, salienta-se que "o portuense" foi fundado por camilo e ricardo guimarães. do folhetim, "pias leitoras e pios leitores, começa o romance, em nome da moralidade, do decoro e dos interesses materiais... da família", surge a literatura na sua dimensão ética, que será transportada para a ficção.

maçonaria das luzes em portugal


DAS IDEIAS E DA HISTÓRIA DA MAÇONARIAS DAS LUZES EM PORTUGAL



Partindo do princípio de que a História não se faz só com documentos, mas interessando a História enquanto interpretação e representação, o prof. Norberto Cunha na sua conferência denominada “Maçonaria nas Luzes, em Portugal” e integrada no Ciclo organizado pelo Museu Bernardino Machado “A Maçonaria em Portugal”, defendeu que a Maçonaria não é uma instituição estáticas, é, acima de tudo, uma instituição dinâmica, na medida em que há uma Maçonaria antes da Revolução Francesa e pós Revolução Francesa, assim como há uma Maçonaria antes das invasões francesas e a seguir às mesmas invasões.

 dr. artur sá da costa na apresentação do prof. norberto cunha

A Maçonaria portuguesa é uma Maçonaria, nesta época histórica, o século XVIII, exógena e não operativa, é uma Maçonaria importada, já que fomos buscá-la à Grande Loja de Londres (criada em 1617), e que tem, como característica essencial, princípios de ordem ética, e não há uma opção política por trás, constituindo-se como uma reacção à maçonaria jacobita, aos partidários de Jaime II, e, por outro lado, ultrapassar querelas religiosas e políticas. Há uma opção ideológica, uma tentativa de se livrar das querelas religiosas existentes na Inglaterra, para se livrar então do absolutismo dos Stuarts. Esta será a referência paradigmática da maçonaria portuguesa até 1802: não é uma Maçonaria comprometida politicamente, mas sim ideológica. O que está em causa é a defesa da fraternidade humana, pensar o homem e a humanidade, mediante a construção de um templo simbólico com o fim da virtude, sendo então as ideias gerais da Grande Loja de Londres, com uma mundividência iluminista. A Maçonaria foi uma associação ao serviço das ideias do iluminismo, mas foi, contudo, sempre ao reboque delas, pelo menos até ao princípio do século XIX: uma Maçonaria convergente, mas não se confunde com o iluminismo.



dr. artur sá da costa e o prof. norberto cunha na mesa

Será com os “Estatutos”, is to é a “Constituição de James Andersen, os quais tiveram duas edições, a primeira de 1723 e a segunda de 1738, aqui se defendendo que “a religião católica é a sua base insustentável”, que surgem as ferramentas e o funcionamento da Maçonaria, a saber: o esquadro, que regula as nossas acções; o compasso, evitar os excessos; o avental, símbolo do trabalho; as luvas brancas, para não manchar as mãos com iniquidades; a bíblia, para se governar com fé; o triângulo, a liberdade e a igualdade, assentes na fraternidade, que estará patente, por exemplo, na constituição vintista portuguesa. Aliás, e convém dizer, não só aceitavam a religião estabelecida, como a política do estado, não feriam a ortodoxia. Para além das características simbólicas, o Prof. Norberto Cunha salientou nestes “Estatutos” uma certa democracia interna, estando patente uma rotatividade dos cargos. A Maçonaria não é uma religião, nem uma religião laica, porque nenhum dos seus membros estava obrigado a seguir a do outro, cada um tinha a sua, a Maçonaria não tem dogmas, não tem uma configuração partilhada. Apesar de haver filósofos maçónicos, caso de Herder, Krause, Lessing, Fichte ou Goethe, não há uma filosofia da Maçonaria, uma filosofia como sistema. Uma outra característica, e que passou despercebida ao papado e à Inquisição, é a da sociabilidade: a Maçonaria é assim universal, atravessa as fronteiras, e a Inquisição não deu conta disto, a Maçonaria tem uma dimensão cosmopolita, eis um dos aspectos mais revolucionários, pelo princípio de fraternidade, a sociabilidade e o respeito (igualdade) das crenças (liberdade). A Maçonaria desta fase histórica nunca defendeu o deísmo: a Maçonaria do século XVIII não é deísta, é tolerantista.


 o prof. norberto cunha num dos momentos da conferência


Após o funcionamento e as características da Maçonaria no seu contexto geral, o Preof. Norberto Cunha salientou de seguida a Maçonaria em Portugal, defendendo que há uma convergência e não uma incidência na Maçonaria. No tempo de D. João V, há apenas conjecturas da existência das lojas portuguesas maçónicas. E o que é curioso, naquelas que funcionaram no tempo joanino não há um português! Vejamos as lojas: A Loja dos Hereges Mercadores (1727-1755), constituída por estrangeiros, de base de mercadores hereges e protestantes; Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia (1733), recebendo o beneplácito da Grande Loja de Londres em 1738; a Loja dos Católicos Irlandeses e a Loja dos Franceses. Destas lojas sabemos o seu ritual, que tinham três graus (aprendiz, oficial e mestre), tinham reuniões regulares às quartas-feiras, nas quais discutiam temas científicos (medicina, direito, arquitectura e ética – a moral e a virtude), era proibido falar de religião e de política, conviviam, tinham as suas iniciações de aprendizagem pelos sinais e a colocação das insígnias, com o seu ritual, exigia-se o segredo, que era uma forma de evitar que pessoas indesejadas entrassem no grupo maçónico.



Relativamente à atitude da Igreja Católica perante a Maçonaria, o prof. Norberto Cunha focou o Papa Clemente XII e a sua bula “In Eminenti” de 1738 e a bula do papa Bento XIV “Provida Romanorum Pontificum” de 1751. No primeiro caso, o que terá levado Clemente XII a proibir a Maçonaria foi mais uma reacção de prevenção perante uma provável debilitação dos valores da Contra-Reforma da sociabilidade maçónica, que se instalou então na Toscana, em Florença, ou em Roma. A bula não fala de filosofia, no sentido sistémico, enquanto um conjunto de ideias. A única situação que refere é que a maçonaria reúne pessoas de todas as crenças religiosas, e que leva a um certo relativismo, a um certo indiferentismo religioso por parte dos maçons, já que não discutiam nem tomavam posições religiosas. Este é o objecto da bula; o que se pede é que as pessoas abjurem esse indiferentismo. Por seu turno, o que Bento XIV anuncia com a sua bula é que as reuniões secretas são proibidas pelo direito canónico. Para além da igreja, que não é um acto isolado, os estados protestantes do norte da Europa já tinham realizado uma mesma perseguição à Maçonaria.
No caso da Maçonaria portuguesa, não há nestes maçons, pelo menos até ao pombalismo, vestígios de deísmo, não há problemas religiosos, nem sequer uma leitura exegética da Bíblia, até porque eram homens ligados aos negócios, a Maçonaria surge essencialmente como um lugar de sociabilidade, como liberdade de consciência e de tolerância, com um ecumenismo ligado a um humanismo orientado para a filantropia.
Após as referências ao período joanino, o prof. Norberto Cunha avançou para a Maçonaria no tempo pombalino, avançando que o Marquês de Pombal não a proibiu, nas também não embarcou nela. Não existe nenhum dado concreto de que a Maçonaria tenha sido incentivada por ele, temos apenas conjecturas. Aliás, O facto de conhecer e de conviver com maçons, não implica que Pombal tenha sido maçónico. Com estas características iniciais, salienta o conferencista  a diferença entre a Maçonaria joanina e a pombalina. Para além de terem em comum as preocupações filosóficas oriundas do iluminismo, diferem na questão dos membros, já que passam a existir magistrados, militares, eclesiásticos e membros da nobreza.
Na fase histórica da D. Maria II, não há indícios de uma ascensão da Maçonaria em Portugal. Aliás, tem início em 1791 um movimento persecutório aos maçons, quer na Ilha da madeira, que no Continente, na medida em que aparece nesta época uma estrutura revolucionária, tendo como consequência uma confusão ideológica, num antes e pós da revolução francesa. Aliás, Pina Manique identificava os pedreiros-livres, os maçons, com os revolucionários, sendo então jacobinos. A Loja do Padre D. António de André Vinhais (1790) é a loja de referência da época mariana, que se encontra dentro da constituição de Andersen, uma Loja eminentemente ética, afirmando o prof. Norberto Cunha que nesta época não havia ainda jacobinos. Com a constituição do Grande Oriente Lusitano em 1802, provando que as ideias vêm de dentro e não de fora, e pela imprensa doutrinal portuguesa do núcleo dos estrangeirados, que vão dar origem à revolução vintista, sendo o primeiro Grão-mestre Sebastião José de Melo e Castro, conseguiu o reconhecimento da Grande Loja de Londres e da Grande Loja de França, não tendo, contudo, com esta última, grande êxito, devido, entretanto, às invasões francesas. De registar, segundo o prof. Norberto Cunha, a característica bi-camarária do poder legislativo do Grande oriente Lusitano, com uma Câmara dos veneráveis e uma Câmara dos Representantes.
Em conclusão, mesmo nas instituições para-maçónicas, como é o caso do Sinédrio, temos as questões éticas, o aperfeiçoamento moral, o humanitarismo e só no virar do século, a partir do momento em que a Maçonaria se politiza, é que os maçons serão jacobinos.


sábado, 21 de abril de 2012

bernardino machado II tomo política


para o dr. manuel sá marques, com um abraço afectuoso de saudades e de cordeal amizade


a mesa antes da apresentação do II tomo-política da obra de bernardino machado

 

o prof. norberto cunha e o dr. paulo cunha, vereador da cultura da câmara municipal de vila nova de famalicão, num momento de convívio

o eng. miguel machado, neto de bernardino machado, e o dr. sá da costa, em convívio


o dr. paulo cunha e o prof. norberto cunha na mesa


No dia 21 de Abril, pelas 16h00, no Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, apresentou-se o III Volume-Tomo II Política da Obra de Bernardino Machado, com a presença do Vereador da Cultura e Vice-Presidente da Câmara Municipal, Paulo Cunha. Afirmando a responsabilidade da Câmara Municipal na divulgação do pensamento multifacetado de Bernardino Machado, é através do Museu Bernardino Machado que traz para o público, para o exterior, o pensamento de Bernardino Machado, e que, desde 2007, o seu pensamento tem sido divulgado através da ciência, a pedagogia e a política.
Realçou o Vereador da Cultura que na imprensa da época Bernardino Machado era chamado de “apóstolo da democracia” e o “eminente pedagogo”, e entre o monárquico liberal e o republicano, salientou Paulo Cunha que para Bernardino Machado a revolução deveria fazer-se não pelas armas, mas pela política. Desta forma, com este II Tomo, entre o regicídio e a implantação da República em Portugal, colhe-se as reflexões e os pensamentos de Bernardino Machado, o qual, para além de ser uma referência no concelho de Vila Nova de Famalicão, tem um legado pedagógico e político para as gerações futuras.

Por seu turno, o Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado e das Obras de Bernardino Machado, apresentou o II Tomo da Obra Política em três aspectos: se, por um lado, reúne os textos de Bernardino Machado publicados em livro, na imprensa periódica e de conferências, por outro lado, abarca as ditaduras administrativas entre Ferreira do Amaral e Teixeira de Sousa. Os temas principais que se destacam são, principalmente, as críticas, no campo económico, de Bernardino Machado, assim como do Partido Republicano, ao engrandecimento do poder real, (cuja temática se reflecte nos dinheiros do erário público dados à Casa Real à revelia da Câmara dos Deputados),e os escândalos financeiros; num segundo momento, que se relaciona com a ideologia republicana, temos a defesa de Bernardino Machado perante a descentralização municipal, na suas próprias palavras “as franquias municipais”; num terceiro momento, surge a questão religiosa, anunciando já a lei da separação, problemática que Bernardino Machado não pretendia atacar a Igreja, mas sim o que pretendia era a separação dos poderes; numa quarta questão temática do II Tomo, surge a questão económica e social, numa conciliação entre o capital e o trabalho, numa base e de sentido de equidade social, acreditando aqui no estado demo-social. Aliás, considerando Bernardino Machado como um homem equilibrado, o Prof. Norberto Cunha salienta que mesmo perante o socialismo, este, para Bernardino Machado, deveria ser compatível com a democracia, e relativamente ao comunismo, Bernardino Machado não aceitava uma igualdade à força. Perante a revolução, o argumento de Bernardino Machado era de que a revolução pode ter boas razões, mas ao certo não sabemos as suas consequências. O ideal seria para Bernardino Machado, para a mudança das instituições, pela atracção, pela persuasão, com a matriz do diálogo para que os republicanos pudessem então realizar a “revolução” sem armas, realizando-se através de eleições transparentes para que se possa votar em liberdade e em consciência. O “empata revoluções”, como então lhe chamavam os seus correligionários, nunca esteve contra a revolução, só que não aceitava uma revolução voluntarista e impreparada.
O Prof. Norberto Cunha termina a apresentação do II Tomo da Obra Política com uma reflexão: abarcando os anos de 1908 a 1910, abarcando as ditaduras administrativas, nas quais não se falava de política, o que surgiram foram os tecnocratas no poder, ditaduras que Bernardino Machado repudiou, apesar da tentativa de apaziguamento de 1908; e hoje, o fenómeno é um pouco idêntico, com os tecnocratas no poder.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

a revista famalicense "nova alvorada" e antero de quental















do cravo da liberdade



“Até que um dia chegou em que, no País das Pessoas Tristes, as pessoas decidiram reconquistar o seu tesouro. Os soldados reuniram-se nos quartéis e pegaram nas suas armas para arrancar finalmente o tesouro das mãos dos ladrões. E toda a gente saiu alvoroçadamente para a rua e acompanhou os soldados, cantando e gritando: «Viva a liberdade! Viva a liberdade!».
Manuel António Pina, O Tesouro, 1993

No âmbito das comemorações do 25 de Abril de 1974, em Vila Nova de Famalicão, o Museu Bernardino Machado vai realizar a actividade pedagógica “Queres saber como… se faz um cravo chamado Liberdade?” Esta actividade realiza-se no dia 24 de Abril, entre as 14h00 e as 16h00, tendo como público-alvo as escolas (4.º ano de escolaridade), e no dia 25 (no qual se comemora este ano os 38 anos da revolução de Abril), para as famílias, entre as 15h00 e as 17h00. Consiste a sessão na leitura do livro “O Tesouro”, da autoria de Manuel António Pina, que aborda, de uma forma poética, a temática do 25 de Abril, tendo como pano de fundo a metáfora da liberdade. No final, os participantes irão aprender a fazer, em papel, o símbolo da revolução, o cravo.