quarta-feira, 30 de novembro de 2011

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IV SESSÂO
2011 Novembro 26




José Pacheco Pereira
Tecnologia e Tecnocracia

Para o conferencista, o tema que vai apresentar é paradoxal sob a égide da política dos melhoramentos materiais. Considera que Portugal vai ter um longo período de buraco negro relativamente a obras públicas, sendo a questão da tecnocracia bem presente. Existem dois tipos de tensão entre ambas as realidades: demagogia e tecnocracia e as ilusões perante o deslumbramento das tecnologias. Para Pacheco Pereira nada disto é novo na história. Se para governar um país é preciso um corpo para governar, no mundo de hoje surgem os deslumbramentos da tecnologia perante as tecnocracias. São as tecnologias que norteiam  a sociedade e não o contrário, esta é a ideia base das tecnologias de hoje. Aliás, não compreendemos os efeitos tecnológicos sem compreendermos as próprias sociedades em que as tecnologias se desenvolvem. É para a sociedade que temos de chamar a atenção e não para as tecnologias, já que estas têm a sua génese nas necessidades da própria sociedade. Desta forma, as exigências sociais passam a dar um papel de relevo às tecnologias. Assim, o que temos de perceber e de entender é o contexto social do aparecimento tecnológico. O conferencista dá vários exemplos.


O primeiro exemplo é o relógio, surgindo a questão temporal, o controlo do tempo, que passou da natureza para a tecnologia. O relógio controla a nossa vida sem darmos por isso, relacionando Pacheco Pereira o desenvolvimento do relógio com o controlo das horas, principalmente tal acontecendo com o florescimento da sociedade industrial. O segundo exemplo é o do automóvel, uma tecnologia que dá para entender a tecnologia de hoje. Com o automóvel surge a mitologia da libertação na cultura, o mito do deslocamento, surgindo igualmente na literatura, principalmente na americana. Com o automóvel surge a questão da estrada, associada à ideia de liberdade. Nestes primeiros exemplos estão enquadrados os mitos que têm a ver com o nosso corpo. Outros exemplos que surgem, a rádio e a televisão, exemplificando o seu uso para fins políticos. Os regimes totalitários usaram muito a rádio (principalmente o nazismo, usando igualmente o cinema). O impacto do directo é uma ilusão sociológica e psicológica muito importante. Os nossos sentidos não são os mesmos no uso das tecnologias, já que na sociedade contemporânea predomina a ideia da velocidade e o movimento das coisas.


Ora, numa sociedade equilibrada deve existir três coisas: pathos (emoção), logos (racionalidade) e ethos (moral). Hoje a sociedade vive no pathos e aqui entra a demagogia da tecnologia, perdendo-se o domínio da racionalidade. Hoje, e no caso da televisão, não há um argumento televiso racional, quer nos títulos e mesmo nas imagens, O problema da sociedade contemporânea é manter e colocar a questão da racionalidade e do seu papel em diálogo com a emoção. O que é interessante notar é o deslumbramento tecnológico perante a tecnocracia (caso do mito da revolução árabe e da questão do uso do facebook, eis um caso de completo deslumbramento fabricado. Outra pura ilusão da internet é dizerem que há mais democracia em rede, já que temos problemas bem graves, como o da literacia, não está acessível a todos, com a grande omissão paradoxal, a qual diz respeito à visão das redes pornográficas, as mais vistas. Outra das ilusões e mitos é a ideia da participação, existindo um reducionismo social contemporâneo, reflectindo a internet os mecanismos da exclusão e da literacia social. O retrato social ilusório das redes sociais, a pretensão de se querer ver nas redes a intervenção qualificada na vida pública ou o mecanismo da sociedade participativa, são outras ilusões tecnológicas. Outro impacto psicológico e de controlo no mecanismo do contrato social contemporâneo é o telemóvel, a sua presentificação social. Estas tecnologias criam vários problemas na rede social e global. Não convém ter ilusões sobre o uso tecnológico.

Aliás, hoje temos um problema com a democracia: ou ela é representativa ou não é, ou é directa ou não é; e uma democracia directa no suporte destas tecnologias tem os seus problemas. A concepção de democracia, a qual podemos ver na reflexão grega e nos pais fundadores da democracia americana, o que temos, no caso dos Estados Unidos, é um país construído na base de uma ideia racional, estando na base a preocupação da representação, sendo as democracias entregues a decisões governamentais temporais e alternáveis, porque a construção democrática é feita por mediações para congregar a ideia das vontades populares, sendo a base a lei. O reverso da medalha surge com o papel das tecnologias, surgindo a perda da representação, a perda dos modelos, a solidão social, a anarquia social, abrindo caminho a demagogias que acompanham as tecnocracias. Para Pacheco Pereira, a democracia é feita na base de que não se chega a uma conclusão e na tecnocracia o chamado “conselho dos sábios” é uma ideia perigosa. Outra ideia perigosa, é aquela entre quem tem condições para saber governar e, ao mesmo tempo, criar as condições para ganhar eleições naquele que não sabe governar: eis o que a democracia cria, na conjunção com as tecnologias, no enquadramento da sociedade contemporânea.                                                             


Miguel Bandeira
Duarte Pacheco, o edificador da cidade “para cem anos”

Considerando Duarte Pacheco como o símbolo da engenharia nacional, o que interessou ao conferencista foi a desconstrução do mito e não aumentá-lo. Ministro da Tutela da Instrução e Ministro das Obras Públicas (aqui acumulando ao mesmo tempo o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa), Duarte Pacheco manteve uma invulgar coerência no método de trabalho e não só soube ressuscitar a imagem das cidades portuguesas, como igualmente manteve uma ampla visão na imagem de Portugal. Se “não houve aldeia onde deixasse o seu dedo”, salientou-se o vasto programa de Duarte Pacheco no programa dos centenários. Salientando dois factores para a promoção de Duarte Pacheco, a temporalidade e a sua capacidade, não foi propriamente um técnico, ou um político0 canónico, mas foi, acima de tudo, um engenheiro político. Acreditava Duarte Pacheco, na óptica do conferencista, que o papel que deve ter um município é em enriquecer o património da cidade e, ao mesmo tempo, a planificação das cidades para o seu desenvolvimento.

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