quinta-feira, 27 de outubro de 2011

dos feriados e da memória histórica

para a cândida, afectuosamente




Um País que esquece a sua própria História é um país falhado. Hoje, que não há tempo histórico da memória, apenas uma memória sem história que se pretende reinventar, quer a nível colectivo, quer a nível individual, sendo o esquecimento o tempo histórico do imediato devido a falta de referências, a medida que este governo pretende imprimir aos feriados do dia 1 de Dezembro e do 25 de Abril de 1974, de pretender suprimir esses mesmos feriados, o que temos é um atentado à memória histórica e colectiva. Jacques Le Goff, num texto que se chama "Memória" (publicado entre nós em 1984 na "Enciclopédia Einaudi") diz-nos, a dado passo, que a memória é um elemento essencial perante aquilo a que se costuma designar de identidade (individual e colectiva), sendo a sua busca uma das actividades fundamentais do ser humano e das sociedades contemporâneas. O que este governo não encontrou ainda é o que Jacque LeGoff nos diz a seguir: que a memória colectiva é não somente uma conquista, sendo também, e aqui é que é assustador, um objectivo de poder. No primeiro caso, já aqui o tenho dito neste blog, o que esta direita conservadora, mais do que construir, senão mesmo de reconstruir, tem desfacelado essa mesma memória colectiva perante a fragmentação social. No segundo caso, a república democrática na qual vivemos, quer na fase da esquerda social, que estando demissionária e em gestão de poder, a qual não pretendeu comemorar Abril numa atitude de comodismo, e, por outro lado, a direita que pretende a reforma da administração local, dessacraliza não só a memória histórica, como, igualmente, as conquistas do poder local. A conclusão a que se chega é que o projecto para uma ampla cidadania activa dos cidadãos na sociedade portuguesa pode ficar em risco. Jacque LeGoff, no mesmo texto referido, conclui que a memória onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Acima de tudo, devemos trabalhar de uma forma para que a memória sirva para a libertação e não para a servidão do ser humano. E, numa altura em que as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril se aproximam (2014), a supressão do dia 25 de Abril como feriado nacional é, precisamente, uma tentado à memória histórica e colectiva da sociedade portuguesa. Não devemos apagar a memória. Já agora, porque não suprimir o dia 5 de Outubro?

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