quinta-feira, 6 de outubro de 2011

bernardino machado, cidadão exemplar


para o dr. manuel sá marques, com um abraço fraterno de amizade



Resumo da intervenção do Prof. Dr. Norberto Cunha, no dia 5 de Outubro de 2011, no Museu Bernardino Machado, na apresentação do catálogo da exposição “Bernardino Machado e a I República” e no âmbito do enceramento das comemorações das I República em Vila Nova de Famalicão.




O Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, agradeceu ao Vereador, Dr. Paulo Cunha, e ao Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, Arq. Armindo Costa, o que ambos têm feito pelo Museu e o empenho que puseram para que as actividades, não só no passado, como agora, para que as comemorações fossem bem sucedidas, apesar do Museu ser um Museu paleográfico, não sendo fácil sustentá-lo perante a opinião pública, mantendo a continuidade e a benemerência, admitindo que vale a pena fazê-lo, porque estamos perante um cidadão exemplar, não se tratando de nenhum apostolado. Cidadão exemplar, porque a memória só será viva quando se torna presente e quando a vivemos no presente e para ser prospectiva, em direcção ao futuro e, nesta medida, a memória revivida não é um tempo perdido, mas um tempo a recordar para as encruzilhadas da vida.


O Prof. Dr. Norberto Cunha no momento da sua intervenção

Bernardino Machado tinha da política uma concepção interessante e que é útil recuperar: a política não é uma religião, um dogma ou um conjunto de dogmas, sendo mais um ponto de partida do que um ponto de chegada, de cariz experimental, sendo o critério a supremacia do altruísmo sobre o egoísmo. Bernardino Machado, para o Prof. Norberto Cunha, não tinha inimigos políticos, tinha adversários políticos, não confundindo a política com os homens, na medida em que a política é uma actividade nobre. De uma enorme tolerância política, daí o seu apoio aos adesivos, ele que também o foi, sendo um liberal, tendo reservas então ao republicanismo emergente, pretendia a liberalização da Monarquia, evidenciando a sua independência de espírito perante qualquer compromisso político, tendo sempre uma atitude crítica, não de subordinação, mas pretendia uma relação entre iguais. Bernardino Machado foi sempre assim, tendo ao longo da sua actividade cívica e de homem público alguns dissabores. A cidadania passava pela autonomia moral e pelas livres ideias dos cidadãos. Esta atitude crítica, que era construtiva, conduzia à tolerância, à criatividade. Considerava que as pessoas deveriam ser eleitas e não nomeadas, defendendo sempre o princípio de eleição pela competência, e daqui o seu interesse pela educação, não uma educação passiva ou de memória, mas uma educação orientada para a prática; e se queremos mudar o País, temos que ir para uma educação prática, reformulando o ensino técnico. A par disto, Bernardino Machado tem uma preocupação pelo ensino elementar (as primeiras letras) e fora das instituições: aqui temos as universidades livres, estando os cursos vocacionados para a profissionalização, fundando igualmente a Academia dos Estudos Livres, os cursos universitários nocturnos, com uma série de disciplinas de ordem prática, ora no Porto, em Coimbra e em Lisboa. A instrução deve estar ao serviço da educação, a qual é moral, e que servisse para certificar a independência, e mais do que os conteúdos. O que lhe interessava eram os métodos de aprendizagem.




No período da República destaca-se não só a actividade de Bernardino Machado enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros, como igualmente a sua actividade no V Governo Constitucional, do qual esteve á frente. Realizou, ou pretendeu realizar, já que não passou no Senado, a revisão da Lei da Separação, a lei da amnistia, a revisão da lei eleitoral, conseguindo a pacificação social e a participação de Portugal na I Guerra Mundial para a salvaguarda do património colonial. Chefe do Governo em 1921 e destituído por uma revolta militar da GNR e uma vez mais Presidente da República (1925-1926) A sua atitude crítica e de autonomia valeu a Bernardino Machado o facto ter sido vítima do próprio Partido Democrático, o qual só elegia para a Presidência da República quem estivesse filiado no próprio partido. Nestas circunstâncias, quem seria eleito em 1923 seria Teixeira Gomes. Não desistindo da sua faina regeneradora (mais uma vez chefe de mais um governo constitucional em 1921, e destituído por uma revolta militar realizada a cabo pela GNR, e Presidente da República entre 1925 a1926), abdicando, em 1919, da Presidência da República após a sua vinda do 1.º exílio durante o sidonismo em Portugal, mais seareiro do que os próprios seareiros, Bernardino Machado sempre acreditou no self-government, política baseada na instrução onde os actos não são individuais, mas sociais.

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