sábado, 24 de setembro de 2011

a ambiguidade da república perante a mulher




O Prof. Paulo Guinote (o convidado do Município famalicense e do Museu Bernardino Machado para proferir a conferência “As Mulheres e o Trabalho na I República” no âmbito do Ciclo de Conferências “As Mulheres e a I República organizado pelo respectivo Museu), defendeu a tese da ambiguidade da República perante o trabalho feminino. Se a República prometeu muito, no exercício do poder os republicanos, se não o negaram, serão as mulheres que vão ganhando a sua aposta no mundo do trabalho de uma forma natural, apostando principalmente na instrução. Se existiu um recuo das actividades tradicionais, as quais se voltam a acentuar na época do Estado Novo, cresce, durante a República, o trabalho feminino nos serviços e no espaço comercial, principalmente nos espaços urbanos, com um nível médio de qualificações na instrução, através das Escolas Normais, as quais dariam o acesso à Universidade. Um exemplo concreto: em 1926, num universo de 1700 advogados, havia 7 advogadas! Estes ganhos serão obtidos mais no futuro, considerando o Prof. Paulo Guinote que o período final da Monarquia e o da República serão fases geracionais para a implementação da mulher no mundo do trabalho. A independência e a promoção, a mulher encontrou, entre finais do século XIX e princípios do XX, na instrução.


O Prof. Paulo Guinote e o o Prof. Dr. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, que representava o Dr. Paulo Cunha, Vereador e Vice-Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, no momento em que apresentava o conferencista.


Iniciando a sua conferência, o Prof. Paulo Guinote considerou se existe neste tema alguma problemática, o mundo do trabalho feminino, até que ponto se justifica falar deste assunto, o que faziam, quais os sectores da sua actividade, as diferenças entre o trabalho feminino na Monarquia e na República.
A metodologia burguesa remetia a mulher ao mundo doméstico, não tendo a mulher actividades pública e cívicas. Com direitos inferiores juridicamente, mesmo no campo do trabalho, não tem o direito ao voto e não tem participação cívica (exceptuando alguns casos). Vai ser a evolução natural que irá permitir às mulheres novas condições. Há autores que nem sempre consideram as reivindicações feministas, considerando-as uma concorrência desleal, factor de perturbação e promoviam a falta de produtividade no mundo do trabalho. Esta é a ideologia da época: o homem é o ganha-pão e a mulher só deve trabalhar em último caso.
Vejamos as actividades tradicionais: a agricultura e a pesca (ambas consideradas naturais) e as fábricas (no mundo operário, a presença da mulher era considerada indesejável). O que existia então era um desajustamento das qualificações no trabalho qualificado, existindo uma enorme disparidade entre o mundo operário feminino e a classe média-alta; e no campo das remunerações, a mulher só auferia 60% do rendimento salarial face ao trabalho masculino.

O Prof. Paulo Guinote


Algumas profissões, na óptica do Prof. Paulo Guinote, vão-se feminizando. É o caso da docência, do professorado primário; e entre o mundo proletário rural e urbano, a ascensão da mulher vai ser precisamente no professorado. A mulher na Monarquia fazia parte de 30% da população activa, nos serviços domésticos, que não eram qualificados, no comércio, na indústria transformadora e na agricultura. Não há mulheres a trabalhar no Estado. Os universos destas actividades na República mantêm-se, mas, em cada uma delas, vai descer um pouco a sua percentagem, aparecendo novas actividades: temos a entrada da mulher na administração pública (com José Relvas: até 1920, haviam 400 mulheres pelos mais variados ministérios, excepto o Ministério dos Negócios Estrangeiros, no qual não havia mulheres). O que não deixa de ser curioso para o Prof. Paulo Guinote é que a percentagem das mulheres activas (apesar das suas baixas qualificações) é superior aos países europeus. Na República, o trabalho feminino apresenta-se com alguns sinais de modernidade: é o caso das costureiras, as empregadas de loja, encontram-se ligadas ao artesanato, surgem as telefonistas (actividade profissional essencialmente feminina), temos também as chefes dos postos de correio, as carteiras do espaço rural, as parteiras e as enfermeiras, entre outras actividades.
No final da conferência, altura em que o Prof. Dr. Norberto Cunha oferecia ao convidado as obras de Bernardino Machado, e um aspecto do auditório

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